São Paulo, domingo, 6 de março de 1994
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Escândalos unem famosos e anônimos no DF

DANIELA PINHEIRO; ELVIS CESAR BONASSA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Uma característica distingue os arquivos da polícia de Brasília dos registros de delegacias de outras cidades: na capital, os estupros e crimes sexuais aproximam simples marginais de autoridades. Nas repartições policiais, processos contra bandidos anônimos se misturam a relatórios que incriminam personalidades da cidade e até diplomatas estrangeiros.
Pode-se encontrar num mesmo arquivo, por exemplo, o caso da estudante A.P., 22, estuprada no início do ano, no campus da Universidade de Brasília (UnB), por Ramon Oliveira da Silva, 18, e o de Francisca Neusa de Almeida Farias, 37, espancada e violentada pelo ex-marido, Glaucus Abi-Ackel, sobrinho do ex-ministro da Justiça, hoje deputado federal, Ibrahim Abi-Ackel (PPR-MG).
O estupro contra A.P. foi cometido à luz do dia (14h), no campus da UnB. A estudante tinha ido se inscrever no vestibular. Acusou Ramon Silva de tê-la atacado e arrastado para um matagal. Nos últimos cinco anos, foram registrados 50 casos semelhantes naquele campus. Ramon está preso.
No ano passado, 149 casos de estupro foram registrados na Delegacia da Mulher. Neste início de 94, Brasília foi sacudida por dois novos escândalos. O mais recente é o do ginecologista Vasco Rodrigues da Cunha, que teve a prisão provisória decretada na última quinta-feira.
Mais de 20 clientes já denunciaram Rodrigues da Cunha por supostos crimes que vão de estupro ao abuso sexual, passando pelo erro médico e cobrança extorsiva de exames. A lista de clientes de Vasco inclui socialites da capital e mulheres de parlamentares.
Poucos dias antes das denúncias contra o médico, havia sido descoberta a ação do chefe da segurança do Ministério das Minas e Energia, Irael da Mota. Ele é acusado de obrigar suas subordinadas, chamadas de "guardetes", a manter relações sexuais em seu gabinete, a poucos metros do elevador privativo do ministro.
Um caso exemplar da proximidade entre poder e escândalo é o de Carlos Eduardo de Araújo Lima. Então secretário Nacional de Cidadania e Justiça do Ministério, ele era responsável pela classificação de filmes de acordo com a faixa etária. Costumava, por exemplo, cortar algumas das cenas picantes dos filmes. Ele foi preso no motel Colorado, acompanhado da mulher, Maria das Graças, de uma prostituta e um kit orgia: vibrador, xilocaína, vaselina, leite condensado, 14 gramas de maconha e 16 gramas de cocaína.
As "técnicas de abordagem" e a disposição dos inquéritos nos arquivos da Delegacia da Mulher também aproximam personagens ligados ao poder de criminosos anônimos. Os casos de Paul Robert Phillips, 38, funcionário da embaixada britânica, e do estudante Ricardo Silva Venâncio, 24, dividem hoje a mesma gaveta.
O primeiro é acusado de ter cometido abuso sexual contra uma garota de 13 anos, depois de prometer transformá-la em uma manequim famosa. Já Venâncio cumpre pena na penitenciária da Papuda. Foi condenado pelo estupro de sete mulheres. Algumas pastas depois, está a denúncia contra Wellington Franco de Oliveira Júnior, 28, funcionário do Senado Federal.
Fazendo-se passar por um "caçador de modelos" –do mesmo modo que Phillips–, Oliveira Júnior obrigou uma menina de 12 anos a entrar em um banheiro do Conjunto Nacional, shopping center de Brasília, para mostrar-lhe os seios e as coxas.

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