São Paulo, domingo, 6 de março de 1994
Próximo Texto | Índice

Para equipe, mínimo não pode ser elevado

Consequência poderia repetir erros do Plano Cruzado

CARLOS ALBERTO SARDENBERG
DA REPORTAGEM LOCAL

O Plano de FHC é tecnicamente bom, está apoiado em condições econômicas positivas, mas o sucesso depende da qualidade de sua administração e do jogo político no Congresso. Até aqui, o ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, vem ganhando, com poucas concessões, como foi o abono de 5% no salário do funcionalismo. Para a equipe econômica, esse foi um "contrabando" que escapou. Pequeno, mas que sugere a possibilidade de outros. Em particular, a equipe econômica não topa qualquer aumento do salário mínimo.
A equipe achama que haverá danos enormes ao plano se o Congresso aumentar o mínimo. O aumento atingiria o governo e toda a economia. Um mínimo elevado aumenta o gasto público, comprometendo o equilíbrio fiscal, base essencial do plano, e provoca aquecimento geral das compras, facilitando elevações de preços.
Esse foram dois erros do Plano Cruzado, sempre apontados pela equipe: déficit público e demanda aquecida. Por isso, a equipe não aceita negociação no mínimo: não pode passar de US$ 65.
Na gestão do plano, o risco está na eventual demora na definição de regras de funcionamento da URV. No setor financeiro não há problemas nesta fase. Mas o setor produtivo está parado, pois indústria e comércio não se entendem. O secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Clóvis Carvalho, informa que, agora, a mensagem do governo é "calma, pessoal".
Há, assim, um conflito de tempo. O setor produtivo está ansioso para usar a URV e a equipe teme que a generalização prematura provoque aquecimento da economia e inflação alta em cruzeiros reais. No regime do cruzeiro real, é loucura comprar a crédito.
Já com o salário fixo em URV, é moleza fazer uma prestação fixa em URV. A redescoberta do financiamento vai provocar crescimento dos negócios e é por isso que a equipe pretende adiar o "espalhamento dos instrumentos de crédito", na expressão de Carvalho.
As condições econômicas são todas positivas. No setor externo, a dívida está praticamente negociada, há indicações de que o FMI vai endossar o plano e o acordo, o Banco Central brasileiro está com reservas de quase US$ 35 bilhões, mais do que suficientes para evitar especulações e sustentar a cotação de 1 URV para US$ 1. As exportações continuam bem e a taxa de câmbio está equilibrada.
No lado interno, os preços públicos estão alinhados, a economia tem maior grau de eficiência. E as tarifas estão baixas para permitir importações que impedem altas de preços internos.
Condições
Para que a passagem para o real seja positiva, há duas condições básicas: regras de emissão que mantenham o real como moeda forte, lastreada nas reservas do Banco Central, e decisões do Congresso Revisor que avancem na privatização, na abertura da economia e garantam regras permanentes de controle das contas públicas.

Próximo Texto: Fazenda desata 'nós' do plano
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.