São Paulo, domingo, 6 de março de 1994
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Morumbi vai ter briga de gente grande

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Tudo bem: o Corinthians vem no bagaço da excursão ao Japão, com os fusos trocados, insone, olheiras fundas, pés inchados e as têmporas latejando, enquanto o tricolor, mordido pela derrota diante do Bragantino, depois da bela vitória sobre o Palmeiras, espera esfaimado sua próxima presa, com os dentes afiados.
Mas esse quadro hiper-realista pouco tem a ver com a realidade do futebol. Semimorto, o Corinthians é sempre Corinthians. Sobretudo, se o técnico Carlos Alberto Silva conseguir ajustar seu meio campo com Ezequiel, Zé Elias, Moacir e Tupã. Imagino Ezequiel na cabeça da área, Moacir armando pela direita e Zé Elias pela esquerda, enquanto Tupãzinho, mais à frente, circulando na intermediária inimiga, faz a ligação com o ataque composto por Viola e Marcelinho.
Vai ser briga de gente grande, contra Doriva, Cafu, Leonardo e Palhinha, o meio-campo que destroçou um Palmeiras, suicidamente, omisso nesse que é o setor nobre de qualquer equipe de futebol, hoje e sempre. Com um detalhe: enquanto Viola e Marcelinho estão com o pé na forma e a estrela de artilheiro brilhando sobre suas cabeças, Euller e Muller ainda buscam o caminho do gol.
E Rivaldo? Bem, parece que o treinador resolveu poupá-lo da má fase que vem atravessando, pelo menos, desde que Parreira anunciou que o rapaz seria o substituto de Raí, caso o capitão do time nacional não saia do buraco negro em que mergulhou há algum tempo. Parece síndrome da camisa 10 amarelinha, ou praga do grão-mestre em alquimia, Matinas Suzuki Jr., para ver se vingam Dener e seus quatro eleitos.

A propósito, a parábola do Matinas teve a leveza e o fel de uma folha seca do Didi. Pena que bateu na trave, pois, como dizia o sábio Morengueira, com açúcar, até eu. Quer dizer: encaixar Edmundo, Bebeto, Romário, Dener e Muller no mesmo time, com uma tática revolucionária, tudo bem. Mas que tática? E que revolução se pode esperar de Parreira, um moço inteligente, articulado, conhecedor das coisas do futebol, mas de formação e temperamento conservadores.
Além do mais, na história do futebol, só houve três instantes revolucionários. O primeiro, no limiar dos anos 20, quando se mudou a lei do impedimento, passando de três para dois jogadores, entre o atacante e a linha de fundo. Nasceu, então, o sistema clássico 2-3-5. O segundo, quando o Arsenal de Chapman inventou o WM, com seu quadrado mágico no meio-campo, como bem nos ensina o mestre luso Cândido de Oliveira, no seu opúsculo "WM", edição de 1949. E o terceiro, na Copa de 74, com o carrossel holandês de Rinus Mitchels.
Já vai pra 20 anos, desde o último movimento revolucionário no futebol. E o que dele restou, senão alguns princípios básicos mais no campo da prosódia do que no de jogo? Nem mesmo a própria Holanda tentou reproduzir aquele instante mágico nas Copas seguintes. Caiu no convencional, um passo além, é verdade, mas convencional.
Enfim, seja lá o que Deus quiser.

O Santos também voltou de estafante viagem ao Japão e, como o Corinthians, é um grande de gloriosa tradição. Então, por que essa desconfiança toda quanto às suas possibilidades diante do Palestra, nesta noite de domingo (isso são horas?)? Bem, porque, além de o Palmeiras ter um timaço, ainda que desfalcado de Edmundo, parece ter firmado um pacto com os astros lá de cima. Que o diga o Mogi. Na sexta-feira, o time de Vadão se acovardou no primeiro tempo, tomou 1 a 0. No segundo, partiu pra cima, criou chance sobre chance, em vão.
É que já estava escrito.

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