São Paulo, domingo, 6 de março de 1994
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Nunca houve tantas línguas em extinção

MARCELO MUSA CAVALLARI
DA REDAÇÃO

As línguas morrem. E estão morrendo, atualmente, em maior número do que em qualquer outra época da história.
Segundo Lyle Campbell, pesquisador da Universidade Estadual da Louisiana em Baton Rouge, o inglês é a principal ameaça para a maior parte das cerca de 6.000 línguas existentes hoje no mundo. Para o estudioso, a pressão para aprender o inglês faz com que as novas gerações não aprendam as línguas de seus antepassados. O caso é mais agudo na Califórnia, diz Campbell. "À época do contato com os europeus, havia 200 línguas na Califórnia. Hoje existem 100 e não há nenhuma criança aprendendendo nenhuma delas". "Há quem considere o inglês um verdadeiro vírus e que haja uma conspiração para transformar tudo numa espécie de padrão MacDonald's", disse Campbell na reunião da Sociedade Norte-Americana para o Avanço da Ciência.
Publicado no mês passado em Londres, o "Atlas of the World's Languages" dá um retrato preocupante da situação. Segundo o trabalho, 135 das 200 línguas aborígenes da Austrália têm menos de dez falantes cada uma. Em Papua-Nova Guiné, há 155 línguas com menos de 300 falantes. Situação de 70 das línguas indígenas da América do Sul.
Mas não são só as línguas de minorias étnicas que correm ou se sentem em perigo. Em maio, no Rio de Janeiro, será realizado um congresso para estudar estratégias de defesa das línguas neo-latinas. Línguas de tanto prestígio quanto o francês, o italiano, o espanhol e o português vão discutir uma estratégia conjunta para enfrentar o avassalador sucesso do inglês.
Joergen Schmitt Jensen, professor de português na Universidade de Aarhus, Dinamarca, é um dos participantes do congresso. Ele acredita que, em cem anos, o português terá sido substituído como língua oficial mesmo em Portugal. "O inglês se adapta bem à linguagem técnica que é cada vez mais dominante", diz Jensen.
A participação de um dinamarquês num congresso de línguas neo-latinas se explica, segundo Jensen, por causa da experiência escandinava. Para se defender de uma possível perda de importância, os escandinavos desenvolveram atividades para ensinar os nativos de cada língua a entender a dos outros. Universidades e escolas da Suécia, Noruega e Dinamarca passaram a promover conversas, leituras e apresentações nas línguas de seus vizinhos. "É claro que somos países muito menores e nosso contacto é muito mais fácil, mas a experiência pode servir para as línguas neo-latinas", acredita Jensen.
(MMC)

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