São Paulo, domingo, 6 de março de 1994
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ONU tenta reconstruir Sarajevo

DA "REUTER"

A equipe de especialistas britânicos e norte-americanos da ONU que visita Sarajevo esta semana para estudar o que será necessário para sua reconstrução vai encontrar uma cidade próxima do colapso físico, depois de 23 meses de cerco e de guerra. "Será basicamente uma equipe de infra-estrutura, que vai tentar trazer os serviços básicos da cidade de volta ao normal", disse Fred Cuny, um especialista em desastres que trabalha na capital bósnia.
Segundo ele, a missão inicial será de "restaurar confiança, na tentativa de obter mais apoio ao cessar-fogo com a reabertura de vias bloqueadas e a volta de serviços como abastecimento de água, gás e energia elétrica".
O esforço para a reconstrução de Sarajevo foi anunciado na semana passada pelo presidente dos EUA, Bill Clinton, e pelo premiê britânico, John Major, ao fim de quatro semanas de um precário cessar-fogo entre sérvios e muçulmanos. Major também propôs que a ONU constitua um fundo internacional para pagar pelas obras.
Ao deixar o aeroporto, os técnicos –seis americanos e doze britânicos– terão que passar por postos de controle de soldados sérvios e muçulmanos, no que ainda é uma cidade dividida. Passarão por ruas esburacadas por obuses de morteiros e pelas lagartas de tanques –e também por prédios derrubados por bombas, blocos de apartamentos destruídos, pontes minadas, restos de cabos de trólebus pendurados e ônibus crivados de balas usados como barricadas contra franco-atiradores.
Menos evidente é o dano à estrutura subterrânea da cidade. Bombas estilhaçaram os velhos encanamentos de água e esgotos; o sistema de gás está todo perfurado, canibalizado por milhares de famílias tentando obter aquecimento.
Os obstáculos, porém, são tão políticos quanto físicos. A infra-estrutura de Sarajevo foi construída para servir a uma cidade não-dividida, num país unificado. Os sérvios querem a partilha da cidade. Cada missão de reparos, cada decisão de abrir uma válvula de água ou de remover minas explosivas de uma ponte vira objeto de disputa por um lado ou por outro.
"Esta é uma cidade muito difícil para trabalhar, porque é preciso conseguir permissão para tudo; às vezes, para visitar uma instalação qualquer é preciso avisar com dias de antecedência", disse John Fawcett, chefe do Comitê Internacional de Socorro e coordenador da visita dos técnicos da ONU.
"Consertos simples no sistema de gás são tornados muito difíceis por causa da política étnica", disse um técnico. "Os sérvios têm todas as peças de reposição em seu lado da cidade e os muçulmanos têm a maioria dos técnicos do lado deles. Os sérvios insistem que cada reparo deve ser feito em seu próprio território, mas não têm competência para isso. Os muçulmanos têm a capacidade técnica, mas não as peças. É uma loucura."

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