São Paulo, domingo, 6 de março de 1994
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Colégio argelino se refugia na Espanha

ANDREU MANRESA
DO "EL PAÍS"

"A paisagem, o clima e a vegetação de Maiorca são semelhantes aos da Argélia, mas aqui podemos viver e desfrutá-los sem a situação de violência e perigo da Argélia". Uma professora do Colégio Alemão da Argélia sintetiza os motivos da transferência temporária de boa parte desta instituição de ensino para a ilha de Maiorca (no sul da Espanha), em função das agressões de fundamentalistas que os estrangeiros vêm sofrendo há meses na Argélia.
Vinte alunos, filhos de cidadãos alemães e de casamentos mistos, vivem longas férias forçadas, um período indefinido de estudo no exterior.
Desde o início do ano, um grupo de estudantes, com idades entre 5 e 16 anos, sob a tutela de 5 professores e 3 pais, trocou as aulas no Colégio Alemão situado em Cheraga pelos quartos de um hotel para turistas na baía de Palma de Maiorca. Por razões de segurança pessoal, nenhum dos interlocutores quis se identificar. O diretor do colégio negou-se a dar declarações e ficou falando ao telefone durante mais de duas horas.
"Não podemos retornar à Argélia por enquanto", disse um dos professores. "Não recebemos qualquer comunicação oficial, mas se a situação não mudar vamos permanecer em Maiorca". No início do ano, os pais e professores da instituição alemã, que recebe apoio do governo de seu país e está estabelecida na zona residencial de Cheraga, perto de Argel, decidiram que era imprescindível distanciar as crianças do clima de violência e tensão que se vive hoje na Argélia. Dos 49 alunos, depois das férias de Natal apenas 6 voltaram às aulas. A maioria ficou na Alemanha.
Discrição
Quando o grupo chegou em Maiorca, em meados de janeiro, ocupou um hotel na praia de Palma. Dias depois eles optaram por se estabelecer num hotel que aluga apartamentos com cozinha. "A presença deles não se faz notar em absoluto, são outros clientes apenas, educados e silenciosos. É como se não estivessem aqui", fala uma recepcionista do hotel onde estão.
A sala de aula central do colégio provisório fica no último andar do bloco de apartamentos para turistas. Ontem, ao meio-dia, depois de um almoço a base de salada de cenouras e cozido de verduras, os alunos voltaram para uma aula conjunta. Antes das aulas vespertinas, a maioria andou pelos terraços e áreas esportivas.
O aluno menor, um loirinho de cerca de cinco anos de idade, se entretinha com um pião. Ao seu lado, duas garotas repassavam lições de matemática e faziam pose para o fotógrafo. Num canto da grande mesa da sala de jantar, três garotas de 15 anos, de pele morena e cabelos escuros, liam o mesmo livro. Uma professora pediu que elas não aparecessem nas fotos, "por razões de segurança". "Algum dia elas vão retornar porque seus pais são argelinos".
A direção do colégio prevê que o colégio continuará em Maiorca por várias semanas. As despesas da estadia do grupo na Espanha correm por conta do orçamento normal do colégio.
Fuga
A transferência definitiva da instituição para Maiorca, que fica a pouco mais de uma hora de avião da Argélia, não é um objetivo imediato. Um funcionário da embaixada da Alemanha em Argel, pai de um dos alunos, disse que dos 300 alemães que viviam na Argélia, apenas metade ficou no país após as ameaças dos fundamentalistas. Um repórter da televisão alemã, pai de um aluno, aproveita a visita para fazer uma reportagem. Esse pai acredita que os alunos não se libertaram das consequências psicológicas da situação argelina. "Desde que começou esse clima de violência na Argélia, meu filho se assusta com qualquer coisa", disse ele.

Tradução de Clara Allain

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