São Paulo, domingo, 6 de março de 1994
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A grande oportunidade

ANTONIO ERMÍRIO DE MORAES

Dizem os técnicos que, ao longo de 1994, o Brasil terá de importar muito feijão, bastante trigo e boas quantidades de leite. Fala-se até em milho, batata e cebola. Num país tão generoso como o Brasil, com terra e água abundantes e clima propício, importar alimentos –numa hora em que devíamos estar exportando comida para o resto do mundo– é uma vergonha (bom dia, Boris Casoy).
Evidentemente, a produção agrícola depende também de tecnologia e crédito adequados. O Brasil dispõe de 150 milhões de hectares agriculturáveis, dos quais usa só 50 milhões, sendo que apenas três são irrigados. Isso dá uns 6%. Ridículo, quando se sabe que o resto do mundo irriga, em média, 38%.
Não sou produtor agrícola. Mas creio que o potencial de crescimento nesse setor é enorme. O Brasil como "celeiro do mundo" não é mera figura de retórica. A necessidade de alimentos é um fato incontestável. A população do nosso planeta no ano 2020 será de oito bilhões de habitantes (7 bilhões no Terceiro Mundo) –o que significa uma espetacular demanda de comida.
Será difícil imaginar que os países mais avançados venham a suprir essa megapopulação. Suas restrições de terra, clima e sol são evidentes. Além do mais, a própria tecnologia começa a apresentar limitações de utilização. Ao abusar da irrigação, por exemplo, aqueles países provocaram a salinização do solo, através da elevação do lençol freático, o que inviabiliza a agricultura. Além disso, o alto preço dos fertilizantes vem reduzindo o consumo per capita desde 1989.
A escassez de terra, água, sol e fertilizantes, na maior parte do mundo, coloca as chances do lado do Brasil. Se explorarmos bem nossa imensidão territorial e usarmos adequadamente as modernas tecnologias –sem repetir os erros dos outros– temos pela frente uma singular oportunidade de alimentar uma boa parcela da população mundial.
Os benefícios econômicos e sociais dessa guinada são evidentes. A agricultura gera empregos com grande rapidez, podendo contribuir eficazmente para reduzir o perigoso desemprego. A produção agrícola responde em menos de um ano, enquanto projetos industriais costumam demorar de 4 a 5 anos para nascer. Além disso, os investimentos são menores e contam com uma rede bancária capilarizada e que tem condições de ajudar a financiar a produção. Isso faz melhorar o abastecimento interno, estabilizando os preços.
Se esse quadro fosse realidade nos dias atuais, não teria ocorrido a lamentável disparada de preços de alimentos das últimas três semanas –embora seja inevitável reconhecer-se aí um componente especulativo ligado às incertezas do novo plano econômico.
É hora de o Brasil dar a volta por cima e elevar substancialmente a capacidade produtiva do setor agropecuário. Mercado não falta –nem interno e tampouco externo. E, muito menos, sol, água e terras agriculturáveis. Está faltando apenas utilizar com bom senso os recursos que Deus nos deu.

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