São Paulo, quarta-feira, 9 de março de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Exército de Israel admite ter falhado no massacre

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

As Forças Armadas de Israel admitiram ontem que poderiam ter evitado o massacre de palestinos numa mesquita de Hebron (Cisjordânia ocupada) em 25 de fevereiro último. O major-general Danny Yatom, comandante militar da Cisjordânia, disse à comissão que investiga o massacre que cinco dos dez soldados que vigiam o local não estavam nos seus postos (leia texto nesta página).
No Cairo, um funcionário da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) disse que Israel se comprometeu a completar a retirada de suas tropas de Gaza e Jericó até 13 de abril –data inicialmente prevista no acordo de paz. O compromisso teria sido assumido em nome do premiê Yitzhak Rabin por seu conselheiro político, Jacques Neriah. Anteontem, Neriah teria recebido de Iasser Arafat, presidente da OLP, uma lista com exigências palestinas.
Os palestinos exigem a presença de uma força internacional em Hebron, Jericó e Gaza. Querem a discussão imediata do problema das colônias judaicas, a remoção das que abrigam extremistas e a proibição de os colonos saírem armados dos assentamentos. Arafat também exige a libertação de todos os prisioneiros palestinos.
Segundo funcionários da OLP, Israel teria se comprometido a responder nas próximas 24 horas. O chanceler de Israel, Shimon Peres, disse que seu país oferecerá novas "alternativas" aos palestinos. Já Rabin disse que seu governo não tem planos para a remoção imediata dos 400 judeus de Hebron.
O general Yatom disse que o massacre da Tumba dos Patriarcas teria sido evitado se todos os soldados estivessem presentes. Segundo Yatom, o cumprimento do plano de proteção do local impediria a ação de Baruch Goldstein.
Único árabe integrante da comissão israelense que investiga o massacre, o juiz Abd el Rahman Zuabi perguntou por que o Exército permite aos judeus entrar armados na Tumba dos Patriarcas, área sagrada para judeus e muçulmanos. "Eu ainda não entendo por que um fiel que vai orar tem de levar uma arma", disse Zuabi. "Alguém em um posto mais alto do que o meu decidiu assim no passado", respondeu o major Dov Satelman, comandante do local.
A polícia israelense informou ter detido quatro dos cinco extremistas judeus com prisão administrativa decretada. Apenas Baruch Marzel, líder do Kach –grupo ao qual pertencia Baruch Goldstein–, permanece solto.
O governo de Israel afirmou inicialmente que 30 palestinos haviam sido mortos dentro da mesquita. Ontem, o general Yatom disse que os mortos são apenas 29. Palestinos afirmam que os mortos são 43, enquanto diplomatas falam em 39. Desde o massacre de Hebron, pelo menos 30 palestinos foram mortos em choques com tropas israelenses. Ontem, os soldados mataram dois palestinos na faixa de Gaza.

Texto Anterior: Míssil sérvio atinge avião da Otan na Krajina
Próximo Texto: 'Eles conheciam o dr. Goldstein', diz general
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.