São Paulo, quinta-feira, 10 de março de 1994
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Diogo Vilela volta à beira da loucura

ARMANDO ANTENORE
DA REPORTAGEM LOCAL

Peça: "Solidão, a Comédia"
Quando: reestréia hoje, às 21h, em temporada popular
Onde: teatro Paulo Eiró (r. Adolfo Pinheiro, 765, tel. 011/247-6020, Santo Amaro, zona sul)
Ingresso: CR$ 2.000
Elenco: Diogo Vilela
Autor: Vicente Pereira
Direção: Marcus Alvisi
Figurinos: Conrado Segreto
Cenografia: Gringo Cardia
Iluminação: Aurélio De Simoni

No início de 91, quando "Solidão, a Comédia" estreou em São Paulo, Diogo Vilela achava que não existe ser humano mais teatral que o velho. Hoje, de volta à cidade, depois de percorrer o país com o monólogo do dramaturgo mineiro Vicente Pereira, o ator reformulou o conceito de três anos atrás: "Talvez o ser humano mais teatral seja aquele que se encontra à beira da loucura."
À beira da loucura estão os personagens que protagonizam os cinco quadros de "Solidão, a Comédia". Há o yuppie que se arruma para uma festa. Há o rapaz que marca um encontro no cinema, a "perua" que procura aventuras amorosas em um barzinho e o velhote que visita um amigo moribundo. Há, também, a prostituta cinquentona que relembra o passado. Todos são profundamente solitários.
"Vicente Pereira acreditava que qualquer pessoa, em um certo momento da vida, se parecerá com os personagens da peça. Qualquer pessoa acabará, um dia, beirando a loucura", diz Vilela. O próprio dramaturgo, porém, não cumpriu a sina que profetizou. Morreu no dia 19 de setembro de 93, em decorrência da Aids. "Acompanhei a fase final da doença. Vicente não perdeu a lucidez em nenhum momento. Pouco antes de morrer, se mudou para minha casa com uma pequena mala onde guardava livros esotéricos e algumas roupas. Dizia que iria partir como São Francisco de Assis, na simplicidade", conta o ator.
Entre os cinco personagens de "Solidão", os que demandam maior esforço de Diogo Vilela são os femininos. "Os homens sentem muita dificuldade para viver uma mulher. Homens não têm útero. Se não tomam cuidado, acabam interpretando mulheres como se fossem travestis."
A nova temporada paulista de "Solidão" deverá durar três meses. Em abril, a peça trocará o teatro Paulo Eiró pelo teatro Artur Azevedo, na Mooca (zona leste). Em maio, irá para o teatro João Caetano, na Vila Mariana (zona sul). Os ingressos terão sempre preços populares. "São Paulo é a cidade em que me sinto mais artista", afirma Vilela. "O público daqui entende o que quero transmitir, se envolve com o que vê no palco."

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