São Paulo, quinta-feira, 10 de março de 1994
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Chico redescobre a música em 'Paratodos'

CARLOS CALADO
DA REPORTAGEM LOCAL

Cinquenta mil pessoas foram vê-lo no Rio, após seis anos de ausência dos palcos, e o mesmo deve se repetir em São Paulo. No show "Paratodos", que estréia hoje no Palace, Chico Buarque redescobre a música. "Depois desse hiato, me dedicando à literatura, voltei à música com muito tesão. Passei a tocar mais violão, como eu não fazia há 30 anos. Foi uma redescoberta", diz o cantor e compositor.
Em entrevista exclusiva à Folha, Chico Buarque falou do início de sua carreira, comentou a polêmica Gal Costa/ Gerald Thomas e revelou que fará uma nova parceria com Tom Jobim.
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Folha - Hoje, a três meses dos seus 50 anos, como você vê o Chico Buarque que estreou três décadas atrás?
Chico Buarque – Acho que eu sou o mesmo com um arranjo novo. Já estava tudo ali.
Folha - Mesmo no palco?
Chico - Bem, no palco eu estou muito mais ousado do que naquela época. Lembro que quando eu comecei a fazer shows e programas de TV, participei de um programa do Fernando Faro, chamado "TV de Vanguarda", cantando "Pedro Pedreiro" e aquelas minhas primeiras músicas. Ele precisou inventar uma posição de câmera meio à Orson Welles. Colocava a câmera lá em baixo, porque a pretexto de olhar o violão eu cantava com a cabeça para baixo. Hoje em dia eu já encaro uma platéia. Eu ainda sou um filho da Bossa-Nova. Ela tinha uma estética de palco que me convinha.
Folha - O que você achou da polêmica em relação ao show de Gal Costa com Gerald Thomas?
Chico - No fato de ela mostrar os seios eu não vejo nada demais. Achei o show muito bonito, só que já estava bastante modificado quando eu vi, no domingo. É um show difícil para a Gal. A direção não a ajuda, mas ela supera aquilo de maneira brilhante. O resultado é formidável para ela. Agora, a direção não ajuda mesmo.
Folha - Pelo que se conhece da sua timidez, você jamais faria um show usando uma sunga...
Chico - Acho que eu não faria muito sucesso (risos). Eu não faria um show com esse tipo de direção. Na verdade, a Gal trabalha ali como uma atriz também. Mesmo no meu último show, em que fui dirigido pelo Naum de Souza, era uma direção bastante discreta. Ele pedia que eu fizesse o que eu já sabia fazer. Mesmo o que não sabia fazer ganhou uma forma mais cômica. Ms eu não poderia me levar a sério como ator. A Gal já tem uma postura dramática bem acentuada há muito tempo. Nem me surpreende tanto que ela tenha optado por esse caminho.
Folha - É verdade que você vai participar do novo disco de Tom Jobim?
Chico - Na verdade, eu estou devendo uma letra para o Tom.
Folha - Mas as gravações já começaram. Dá tempo?
Chico - O Tom grava devagar (risos). Eu trouxe a fita com a música aqui para São Paulo. Assim que passar a estréia do show, vou ter que guardar um tempo de hotel para terminar essa letra. Talvez daqui a duas semanas eu já tenha que gravar.
Folha - Ela já tem título?
Chico - Não. Na verdade, ele me pediu para escolher entre duas canções que ele escreveu para um filme do Marcos Altberg, baseado em um romance da irmã dele, Helena Jobim.

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