São Paulo, sexta-feira, 11 de março de 1994 |
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Pequeno vendedor troca escola por praia
LUIZ FRANCISCO
"Vendo em média CR$ 2.000 por dia", conta. Ele chega à praia de Itapuã por volta das 10h e volta para casa no começo da noite. "Nos finais de semana, saio de casa mais cedo porque o faturamento é maior." O pai, o motorista desempregado André Oliveira, usa o dinheiro para comprar arroz, feijão e farinha, os três itens da alimentação da família, que mora em um barraco com quarto e sala na periferia. Eraldo, que tem mais cinco irmãos, tem almoçado acarajé com refrigerante desde que começou a vender amendoim. "Às vezes fico revoltado, mas sei que tenho que trabalhar para ajudar meus pais." As praias de Salvador também são o mercado de Reginaldo Soares dos Santos, 13, que deixou de estudar na segunda série para ajudar a mãe vendendo pedra-pomes (tipo de pedra usada para polir objetos ou amaciar a pele). "Entrego todo o dinheiro para minha mãe", garante. São mais CR$ 4.000 por dia que a ajudam a considerar sua família privilegiada. "Tomamos café com pão todas as manhãs e fazemos pelo menos outra refeição durante o dia", conta a lavadeira Lourdes Soares dos Santos, 34. Com mais quatro filhos para sustentar –o marido a abandonou há sete anos–, Lourdes acredita que o trabalho do filho é "muito importante" para equilibrar o orçamento doméstico. Em casa não há televisão ou rádio. "O dinheiro que a gente ganha ainda não deu para comprar esses aparelhos." Entre seus colegas vendedores ambulantes, Dilson dos Santos Paixão, 11, pode ser considerado uma exceção. É um dos poucos garotos que consegue conciliar trabalho e estudos. Ele acorda às 6h, vai para a escola onde está matriculado na quinta série, volta para casa para almoçar e começa a vender ovos de codorna na praia às 13h. "Durante a semana consigo vender CR$ 1.500 por dia. Aos sábados e domingos, aumenta para CR$ 4.000." O pai de Dilson, o vigilante Balbino Silva dos Santos, diz que todo o dinheiro do filho serve para comprar comida e remédios para os irmãos menores, mas diz que "o mais importante é que meu filho está consciente que não deve deixar os estudos de lado para trabalhar". A filha mais velha, de 13 anos, ajuda a mãe a cuidar da casa e dos irmãos. "Aqui todos sabem que temos de trabalhar para sobreviver com um mínimo de dignidade", diz Balbino. Texto Anterior: Mão-de-obra infantil é de 2 milhões Próximo Texto: Discriminação atinge a mulher negra Índice |
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