São Paulo, sexta-feira, 11 de março de 1994
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Discriminação atinge a mulher negra

LUIZ CAVERSAN
DA SUCURSAL DO RIO

O homem ganha mais que a mulher, o homem branco ganha mais que o negro ou pardo, a mulher branca ganha mais que a negra ou parda. Esta é mais uma distorção detectada pelo relatório ecomendado pela Ação pela Cidadania Contra a Miséria e a Fome e pela Vida ao IBGE, divulgado ontem.
Segundo os dados do relatório, a média nacional de rendimento nominal é de 4,1 salários mínimos por mês (pela URV de ontem, CR$ 46.711). Sempre na média, os homens em geral ganham 4,9 salários e as mulheres, 2,8; os homens brancos ficam com 6,3 e os negros ou pardos, com 2,9; as mulheres brancas com 3,6 salários e as negras e pardas, com 1,7.
Na ponta extrema desta idiossincrasia do mercado de trabalho, a situação da mulher negra ou parda chega a números impressionantes. No Maranhão e no Piauí a média mensal de rendimento para esta categoria de trabalhadora é de menos de um salário mínimo, exatos 90% do piso básico legal. Mas é nas regiões rurais do Piauí e do Paraná que se encontram os índices mais contundentes: a média para as mulheres negras e pardas nestas duas regiões fica em apenas 30% do salário mínimo, ou seja, CR$ 14.013. O caso do Piauí é atípico, sem distinção de cor: as mulheres brancas também recebem em média este mesmo "salário" no final de um mês trabalho.
A maior média de salário mensal é paga, na classificação por Estados, ao homem branco que reside no Distrito Federal: 12,2 salários mínimos (leia texto a respeito dos altos salários de Brasília na primeira página deste caderno). Ao sexo masculino, a menor média, ainda por Estado, é paga ao homem negro ou pardo do também do Piauí, 1,2 salários.
Nas nove regiões metropolitanas do país, o quadro é semelhante. O segmento mais prejudicado é sempre o dos homens e das mulheres negros e pardos. Ainda uma vez, em todas as regiões, o homem branco tem a melhor média salarial. A maior discrepância, entre os homens, encontra-se em Salvador: a média para os brancos é a maior dentre todas as regiões, 13,6 salários mínimos, enquanto a do homem negro ou pardo fica em apenas 3,9 salários. A menor média salarial para o homem branco é paga em Fortaleza, 6,6.
Quanto às mulheres, a maior média entre as brancas fica em Belém (7,1 salários) e a menor em Fortaleza (3,6). Também é em Belém que as mulheres negras e pardas recebem mais (3,2 salários mínimos na média) e em Fortaleza que recebem menos (1,6 salário mínimo em média por mês). (LC)

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