São Paulo, sexta-feira, 11 de março de 1994
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Mercado é de brancos

DA REPORTAGEM LOCAL

Discriminação racial, sexual e social. A combinação destes três fatores é responsável por uma das maiores distorções do mercado de trabalho brasileiro, no qual o homem ganha o dobro da mulher, o homem branco o dobro do homem negro e a mulher branca o dobro da negra.
"Há profissões socialmente constituídas por gênero, e o mundo do trabalho não oferece as mesmas possibilidades de ganho para homens e mulheres", diz Roberto Venosa, 48, coordenador do Centro de Estudos das Profissões, da Fundação Getúlio Vargas. Ele afirma que a área do trabalho é, antes de mais nada, masculina.
As origens da sociedade brasileira também explicam as divisões do mercado. Na época do país agrário, tinha poder a aristocracia rural branca. Imigrantes, mestiços ou negros com baixa aptidão para o trabalho chegavam ao país para trabalhar em funções de baixa remuneração. "Essa situação se perpetuou", diz Venosa.
A diretora de análise da Fundação Seade, Annez Andraus Troyano, explica que o não-acesso formal à educação é outro fator determinante. "Na escada da ascensão social, há uma proporção mais elevada de brancos com instrução", diz.
A Pesquisa de Condições de Vida, realizada pelo Seade em 1990 e divulgada recentemente, mostra que, entre as mulheres que são chefes de família, 39,9% das negras e 32,6% das brancas não sabem ler e escrever. Entre os homens, essa porcentagem é de 20,4% (negros) e 14,6% (brancos). "Famílias pobres geram filhos sem acesso à escola e que deverão gerar novos filhos ignorantes", diz.

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