São Paulo, sexta-feira, 11 de março de 1994
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Amorim nega acusações contra partido

HUMBERTO SACCOMANDI
ENVIADO ESPECIAL A ROMA

O presidente do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, Antônio Carlos Amorim, recuou ontem nas acusações que havia feito anteriormente de financiamento ilegal vindo do exterior para um partido político brasileiro. Ele afirmou que não tem provas, somente uma denúncia de uma pessoa "respeitável".
Mesmo assim, Amorim acredita que realmente existe dinheiro entrando no Brasil ilegalmente para financiar políticos. O financiamento viria principalmente da Itália, mas também da França, Alemanha e até da Polônia. Ele afirmou desconhecer que partido seria beneficiado, pois caso soubesse "não precisaria pedir ajuda da Justiça italiana". Na última terça Amorim insinuou saber de que partido se tratava, "um partido que poderia tomar o poder em outubro".
O juiz negou ter afirmado que esse dinheiro provém de atividades criminosas, da Máfia ou do narcotráfico. "Nunca disse isso", disse Amorim ontem à imprensa brasileira, numa entrevista na sala do Procuradoria Geral de Roma, Vittorio Mele.
O jornalista italiano Daniele Mastrogiacomo, do jornal romano "La Repubblica", contesta o juiz brasileiro. "Na terça-feira Amorim falou à imprensa italiana e fez uma referência literal à criminalidade. Na Itália, quem faz lavagem de dinheiro e investimentos no exterior é a criminalidade organizada, isto é, a Máfia", disse Mastrogiacomo à Folha.
Amorim sustenta que houve um erro de tradução e que o jornalista italiano distorceu as suas palavras. Ele disse ter usado a expressão "dinheiro sujo" para se referir a dinheiro entrado ilegalmente no país, independentemente da origem. Na Itália, no entanto, essa expressão ("soldi sporchi") remete a atividades criminosas.
A Justiça italiana não deve iniciar nenhuma investigação especial sobre uma possível conexão brasileira para financiamento político. Amorin negou até ter pedido a colaboração do governo italiano nesse sentido.
O máximo que os juízes italianos podem fazer é investigar eventuais quantias enviadas por partidos e empresas italianas. Para a Justiça italiana não interessa se esse dinheiro entrou legalmente ou não no Brasil, ou se serviu para financiar algum partido.
Amorim procurou ontem atenuar o peso político de suas declarações. Disse que não pretendia fazer uma denúncia bombástica e que jamais se prestaria a favorecer algum candidato ou prejudicar algum partido com suas declarações. Os juízes italianos comentam, disse Mastrogiacomo, que as suspeitas de Amorim recaíam sobre o Partido dos Trabalhadores (PT).
Amorin se reuniu ontem com o corregedor Vittorio Mele, um dos principais responsáveis pela investigações de corrupção italiana na América Latina, que supostamente teria ramificações na Argentina, Chile e Peru.
CPIs
Amorim criticou ontem o tipo de investigação feita pelas Comissões Parlamentares de Inquérito (CPI) no Brasil.Segundo Amorim, os deputados não têm competência técnica para fazer esse tipo de inquérito, que deveria ficar a cargo da Justiça e não do Poder Legislativo.
Para Amorim, as CPIs não conseguem resultados satisfatórios, mas somente escândalos, que não contribuem para a apuração dos fatos. "Se não houvesse TV não haveriam CPIs no Brasil, pois nenhum político participaria", disse o presidente do Tribunal de Justiça do Rio, durante sua visita a Roma.

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