São Paulo, sábado, 12 de março de 1994
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Economistas alertam sobre risco de inflação

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ex-presidente do Banco Central, Afonso Celso Pastore, disse ontem que o governo deve uma explicação sobre "o regime de política econômica" que será adotado com a criação do real, pois teme que volte a "indexação e a inflação".
Pastore e o ex-ministro da Fazenda, Mailson Ferreira da Nóbrega, acham que o governo deveria fixar o dia em que vai ser criado o real para evitar que seja necessário o uso de uma tablita. Os dois –mais o ex-ministro João Paulo Reis Velloso e o economista Sérgio Mendonça, do Diesse– prestaram depoimento ao Congresso sobre a MP da URV (Unidade Real de Valor).
Resíduo
Maílson da Nóbrega considerou o dia 1º de julho como o "ideal para criar o real". O ex-ministro da Fazenda alertou os deputados e senadores da Comissão Mista que analisa a medida provisória sobre a existência de um resíduo de inflação de 2% a 4%, quando for criada a nova moeda. A maior preocupação é com o fato de existir inflação a partir do real.
Os economistas apostam em uma aceleração da inflação ainda maior nessa fase de vida da URV. Pastore acha que a inflação em cruzeiros reais será cada vez maior, uma vez que a URV passou a ser um indexador mais completo da economia.
Maílson da Nóbrega atribuiu "às ameaças feitas pelo governo de congelar os preços em URV" a responsabilidade pelas recentes remarcações.
"As ameaças de cadeia aos empresários pode se transformar em uma corrida ainda maior de aumento de preços", disse o ex-ministro da Fazenda.
Já o ex-ministro do Planejamento, João Paulo Reis Velloso, acha que o maior desafio da equipe econômica "é saber como o governo vai fazer para que os reajustes abusivos de preços não passem como resíduo inflacionário ao real".
Alta em URV
O reflexo dos aumentos na cesta básica de alimentos, segundo o economista do Dieese (Departamento Intersindical de Estudos e Estatísticas Sócio–Econômicas), Sérgio Mendonça, foram de 20% em termos reais. O custo da cesta básica do Dieese ficou no último dia 10 em 95 URVs. O custo em fevereiro era de 80 URVs.
O ajuste fiscal do plano do ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, foi questionado pelos economistas. Afonso Celso Pastore disse que o principal foco do déficit público –o aumento da dívida interna– não foi equacionado.
O ex-presidente do BC disse que a falta de um controle sobre aplicações internacionais em renda fixa tem criado um déficit de 1% do PIB (Produto Interno Bruto) ao ano. Os dólares que entram no Brasil atraídos pelos juros elevados são aplicados em títulos públicos, e não na produção.
"O desequilíbrio fiscal vem sendo produzido pelas políticas monetária e cambial adotadas pelo governo", disse Pastore. O ajuste fiscal enviado ao Congresso não promoveu corte de gastos, mas sim aumento de receitas, acrescentou o economista.
Pastore alertou os deputados e senadores para o fato de que a política cambial fixa, defendida pelo plano de Fernando Henrique Cardoso, pode vir a internalizar na economia do Brasil as crises das economias de outros países.

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