São Paulo, sábado, 12 de março de 1994
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Banqueiros almoçam com Lula e dizem temer um governo petista

CARLOS EDUARDO ALVES
NILTON HORITA

CARLOS EDUARDO ALVES; NILTON HORITA
DA REPORTAGEM LOCAL

Luiz Inácio Lula da Silva e um grupo de banqueiros entraram e saíram de um almoço-reunião ontem em São Paulo sem ilusão de conseguir o apoio às suas teses de quem estava do outro lado da mesa. Todos estavam certos. "As divergências existem e eles não concordam quando digo que não podem viver da especulação", disse Lula. "Antes do almoço eu não comprava título do governo de um ano. Agora, continuo não comprando", afirmou José Baia Sobrinho, presidente do Banco Pontual e organizador do evento.
Os banqueiros que se reuniram com Lula acham que o programa de governo que o candidato defenderá na campanha não evoluirá para teses simpáticas ao setor. O mais importante, porém, é que concluíram que não dá mesmo para comprar títulos do governo com prazo de um ano, que venceriam portanto já numa eventual administração Lula. Os representantes dos bancos temem a quebra de compromisso do governo petista.
Lula, ao constatar que nunca haverá acordo entre PT e bancos, limitou-se a pedir aos banqueiros que mandem seu diagnóstico da crise brasileira e sugestões para Marco Aurélio Garcia, coordenador da equipe que elabora o programa de governo do PT.
Duas outras preocupações marcaram as intervenções dos homens do setor financeiro: dívida externa e divisões internas do PT. Sobre a primeira interrogação, lula afirmou que que não aceita o acordo que está sendo negociado pelo atual governo, mas evitou responder se pretende renegociar os termos do que vier a ser assinado nas próximas semans.
"As tendências existem no PT como podem existir em qualquer instituição. No nosso caso, são um fator de democracia', declarou Lula. Apesar do esforço para minimizar a importância da luta interna petista, Lula tem dito aos líderes das correntes do partido que essa é uma questão com potencial para prejudicar eleitoralmente sua candidatura. Tanto que motivou o acordo sobre a participação da bancada na revisão constitucional.
"Na verdade, ele repetiu o que tem dito um milhão de vezes pela imprensa", afirmou Antônio Hermann Dias Menezes, presidente da Associação Brasileira dos Bancos Comerciais). "É o Lula de sempre, só um pouco mais amadurecido", disse Baia Sobrinho.
No final da tarde, Lula reuniu-se com a cúpula do PC do B, um dos possíveis aliados do PT na campanha presidencial. O PC do B continua defendendo o lançamento de uma candidatura única dos partidos "progressistas".
Participaram do almoço: José Baia Sobrinho, Antônio Hermann Dias Dias Menezes, Alcides Amaral (Citibank), Horácio Coimbra Filho (Banco Cacique), Antônio Carlos Porto Filho (BCN) e Piet Eemsing (Banco Holandês). Acompanharam Lula, Marco Aurélio Garcia, Oded Grajew e Paulo Nogueira Batista Júnior.

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