São Paulo, sábado, 12 de março de 1994
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Frei assume Presidência do Chile

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A SANTIAGO

Eduardo Frei Ruiz Tagle, 51, assumiu ontem a Presidência do Chile em meio a louvações à democracia –previsíveis, em se tratando do segundo presidente eleito democraticamente depois dos 17 anos da ditadura militar chefiada pelo general Augusto Pinochet.
Mas um valor algo mais tangível (US$ 1 bilhão) flutuava sobre o Congresso chileno, um modernoso prédio construído pelo regime militar no porto de Valparaíso (a 117 km de Santiago). Essa verba está reservada pelo novo governo para investir em infra-estrutura.
Parece pouco, mas, comparando-se o tamanho das respectivas economias, é uma soma que no Brasil corresponderia à respeitável pilha de US$ 10 bilhões. É esse um dos principais instrumentos para que o presidente Frei cumpra a sua promessa, reiterada ontem pela enésima vez, de transformar a luta contra a pobreza em "primeira prioridade" de seu governo.
Investimentos do gênero têm sabido efeito multiplicador, ainda mais quando se sabe a quem o governo incumbiu de gerir o Ministério de Obras Públicas: Ricardo Lagos, o mais carismático político chileno da atualidade, um social-democrata do Partido por la Democracia, que perdeu para Frei a primária interna na coligação "Concertación", a mesma que elegera Patrício Aylwin em 1989.
Lagos é um potencial presidenciável e fará, obviamente, o possível para que o US$ 1 bilhão tenha uma contrapartida social que pavimente seu caminho para La Moneda, a sede governamental chilena.
Pelo menos um organismo internacional, o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), leva a sério as promessas de Frei de investir no social. Seu presidente, o uruguaio Enrique Iglesias, disse ontem à Folha nas escadarias do Congresso que o BID pretende apoiar "fortemente" os projetos do novo governo chileno, porque coincidem com a ênfase no investimento social do próprio banco.
Na oposição de esquerda, no entanto, a visão é pessimista. "Não haverá mudança alguma de fundo", prevê Jaime Insunza, da Comissão Política do Partido Comunista. Insunza refere-se em especial às instituições chilenas, ainda permeadas da herança do autoritarismo, na forma de senadores "biônicos" e de um Exército como poder à parte, subordinado não ao presidente, mas ao seu comandante-em-chefe –que continua sendo Pinochet, até 1997.
O general foi à posse, mas não chegou a roubar a cena –que pertenceu menos a Frei e mais a Aylwin, que deixou o cargo aplaudido da direita até setores da esquerda por seu papel na transição.

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