São Paulo, sábado, 12 de março de 1994
Texto Anterior | Índice

Como fazer quibe com pato

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA – Claro que pode mudar. Mas, por enquanto, nenhum candidato à Presidência obteria tantos pontos no patômetro (aparelho que mede a taxa de transformação de eleitores em "patos") como o prefeito Paulo Maluf. Motivo: ele jurou que, se eleito, não disputaria o Palácio do Planalto e terminaria seu mandato. No dia seguinte à posse como prefeito, ele já estava articulando sua candidatura.
Na época da eleição, Paulo Maluf, em contato com esta coluna, garantiu por várias que não faria da eleição para Prefeitura um trampolim à disputa presidencial –e se mostrou visivelmente aborrecido quando perguntei se era mesmo para valer.
A imprensa não caiu na promessa. E, também no dia seguinte à posse, já abundavam análises colocando-o como o outro pólo na disputa contra Luiz Inácio Lula da Silva. Agora que está numa boa posição nas pesquisas, Maluf diz que é candidato para salvar a nação de Lula –e aceita o "sacrifício" de abandonar três anos que lhe faltam na Prefeitura.
Propôs apoiar Antônio Carlos Magalhães, com apenas uma condição. O acordo era o seguinte: no prazo da desincompatibilização, quem estivesse na frente nas pesquisas, seria o escolhido. ACM pode ser tudo, menos uma coisa: pato. Ao contrário, há muito tempo ele dá aula para raposas sobre, por exemplo, como diferenciar patos de galinhas. E, óbvio, desconfiou.
Em nome da salvação nacional, Maluf disse que apoiaria alguém com preparo intelectual por achar Lula um "estrondoso ignorante". Mas despontou a candidatura Fernando Henrique Cardoso e para adaptar sua idéia de salvar o Brasil, fez um remendo: esse não vale. O ministro, segundo ele, é preparado, mas não ganharia a eleição, apesar de estar subindo nas pesquisas.
Numa coisa pelo menos Maluf ajuda o ministro no combate à inflação: pela abundância de oferta, o preço do pato vai baixar.
PS – Por falar em patômetro, Lula começou a atacar duramente o plano econômico de Fernando Henrique Cardoso. Chama–o de estelionato e uma desgraça aos trabalhadores. Certamente não é coincidência que o tom dos ataques tenha mudado quando decolou a candidatura Fernando Henrique, dificultando a aliança do PT com o PSDB.

Texto Anterior: C'est la guerre!
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.