São Paulo, segunda-feira, 14 de março de 1994
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Concorrência reduz preços em até 55%

MARISTELA MAFEI
DA REPORTAGEM LOCAL

"Quando eles estiveram dando a cerveja de graça, a gente vai dar de graça e gelada".
A frase, de Antônio Carlos Ribeiro da Silva, vice-presidente da Kaiser, em referência aos descontos da Brahma e da Antarctica, aponta temperatura atípica para o mercado de cerveja para essa época do ano.
É verão, o consumo está aquecido e as cervejarias deveriam estar preocupadas em estabelecer o percentual do novo aumento (tradicionalmente ele ocorre próximo do dia 15). No entanto, os preços caem.
Nos bares de São Paulo, os preços recuaram de Cr$ 700,00 para Cr$ 550,00 na última semana. E nos supermercados, de Cr$ 400,00 para até Cr$ 199,00.
Tudo começou com a Antarctica. Há quatro anos a cervejaria vinha perdendo participação de mercado na pesquisa Nielsen. Até que, no último bimestre (dezembro/janeiro, cujos dados foram conhecidos no início de março) a marca voltou a subir. A Brahma, na contrapartida, caiu. Foi a primeira vez que parte da queda da Brahma deveu-se à Antarctica. Isso não acontecia desde 1989. A contra-ofensiva, rápida, veio através de preços. Nos primeiros dias de março, a Brahma passou a ofertar sua cerveja com 45% de desconto. A prática foi seguida pela Skol, outra das marcas do mesmo dono da Brahma, o grupo Garantia. Na sequência, a Antarctica, e agora também a Kaiser, passaram a seguir os descontos, cobrindo ofertas umas das outras.
Pela tabela da indústria ao comércio, a garrafa de cerveja custa na média Cr$ 580,00. Mas neste verão a bebida é encontrada por até um terço do preço no ponto de venda.
O mercado está agitado também pelas mudanças recentes nas grandes cervejarias do país e do exterior. A Budweiser prossegue com sondagens para fincar sua marca no Brasil. A Brahma comprou, recentemente, cervejaria na Venezuela e a Antarctica acaba de ser sacudida por reestruturação que alterou a estrutura de comando da empresa.
A Brahma mexeu também nos seus quadros de atendimento aos supermercados (onde o avanço da Antarctica foi maior) e intensificou seu estilo de falar somente quando a Nielsen aponta aumento de vendas da marca. Procurada pela Folha por três dias consecutivos, a diretoria da empresa não quis falar sobre participação de mercado, preços e mudanças no setor.
Paulo Pereira, diretor de marketing da Antarctica, confirmou a prática de descontos de sua empresa. "Nossos preços são mesmo competitivos; isso é um compromisso nosso", afirmou. Antônio Carlos Ribeiro da Silva, da Kaiser, raciocina na mesma linha: "Ninguém tira mercado da Kaiser em cima de preço."
Os supermercados, que compram grandes volumes, conseguem os maiores descontos.
Na última semana, o Paes Mendonça de São Paulo estava ofertando a cerveja Brahma a Cr$ 199,00 a garrafa. Na rede Cândia, a Antarctica era encontrada por Cr$ 254,00. No mesmo período, o litro do leite tipo C custava Cr$ 332,00.
"Atuo há 20 anos nesse setor e nunca vi isso antes", diz Ramiro Xavier do Nascimento, da rede Tulha, que conseguiu a comprar a bebida com 55% de desconto.
Levy Nogueira, da Associação Brasileira dos Supermercados (Abras), acha que "vai ganhar a briga quem tiver distribuidores fiéis e serviço de qualidade".

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