São Paulo, segunda-feira, 14 de março de 1994
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Marília Pera dirige montagem de 'Ciúme'

MARCELO MIGLIACCIO
DA SUCURSAL DO RIO

Marília dirige 'Ciúme'
Atriz dispensa maratonas de gravações de novelas
Marília Pera, 51, anda sumida da mídia por opção. Acha que chegou a uma encruzilhada. "Ou faço uma plástica e entro no padrão da TV ou vou ficar desajustada. Na televisão não há tempo para se ter cuidados com uma mulher da minha idade", diz a atriz, que estreou no palco aos 19 dias de vida e agora dirige a montagem de "Ciúme", texto do francês Sacha Guitry, com estréia prevista para o dia 14 de abril no Rio.
Atuar, nem na TV, que ainda lhe traz más lembranças de "Lua Cheia de Amor", sua última novela, nem no palco. Marília, que se intitula uma diretora de comédia e não de teatro, está dispensando não só as maratonas de gravar dezenas de cenas por dia, como também a obrigação de cumprir os rígidos horários e a rotina de estar integrando o elenco de uma peça. "Sou maluca no palco, mas fora dele sou muito exigente e conservadora no trabalho".
Espetáculo que inaugurará o Teatro do Leblon, com 510 lugares, palco giratório de oito metros de diâmetro e estacionamento para 150 carros, "Ciúme" foi enxugado. "Essa peça no Brasil não resistiria a uma montagem realista. Cortei muitos diálogos, pois o brasileiro não tem paciência. O público quer é morrer de rir, por isso fiz algo mais ousado, mais safadinho", explica. Bailarina, Marília incluiu diversos números de dança.
O elenco, que ela passou meses tentando fechar, também rejuvenesceu em relação ao grupo inicial formado em novembro. Os testes foram sua última opção. "Nunca passei em teste algum. Aliás, passei em um, para 'Como Vencer na Vida sem Fazer Força'. Ficava super nervosa".
Na verdade, Marília, se pudesse, estaria viajando. "Se eu não tivesse contas para pagar, ia dar um tempo grande para viajar, assistir óperas e concertos, estudar. Ficar em evidência desperta inveja e tenho necessidade de solidão na minha essência", afirma.
Até hoje Marília Pera paga dívidas da montagem de "Palmas", um investimento de US$ 150 mil que não foi bem. "Não quero mais ser patroa, e sim empregada", afirma a atriz, que já chegou a hipotecar uma casa para levar uma empreitada teatral à frente.
"Recuperar o dinheiro de uma peça hoje em dia é como ganhar na Sena. Eu já ganhei na Sena algumas vezes, mas não tenho mais idade para perder dinheiro", diz, rejeitando a teoria de que exposição na TV ajuda a promover qualquer peça.
Implorar patrocínio para tentar custear uma produção assistida ao preço de US$ 3 ou US$ 4 o ingresso também não está nos seus planos. Para a montagem de "Ciúme", Marília foi contratada pela Joyce Produções Culturais, os mesmos donos do novo teatro onde a peça será encenada.
Depois da estréia, quando pretende fazer algumas modificações baseadas no que constatar "assistindo espetáculo na última fila da platéia", Marília deve voltar a atuar no cinema, numa co-produção americana e dinamarquesa, da qual não pode revelar detalhes.

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