São Paulo, terça-feira, 15 de março de 1994
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FHC é contra subir mínimo para US$ 100

CARLOS ALBERTO SARDENBERG
DA REPORTAGEM LOCAL

A equipe econômica do Ministério da Fazenda é totalmente contra a proposta de se elevar o salário mínimo para US$ 100 até o final deste ano. Nas vésperas do lançamento da URV, a equipe econômica já resistiu aos esforços do ministro Walter Barelli, do Trabalho, que desejava algum aumento real para o mínimo. Na ocasião, o ministro Fernando Henrique Cardoso bancou sua equipe e o mínimo ficou na média dos últimos quatro meses, igual a 64,97 URVs ou US$ 64,97.
Membros da equipe sustentam que o aumento real do mínimo provoca uma elevação imediata em toda a massa salarial, já que é costume medir as faixas em dois mínimos, três mínimos etc. Passar o salário mínimo para US$ 100, em moeda estável, significa um aumento real de 54,34%.
Seria a mais extraordinária distribuição de renda da história do país. Mas também ilusória. Isso porque, até o final deste ano, o país teria que ficar mais ou menos 40% mais rico, produzir 40% mais do que produz hoje, para remunerar a mão-de-obra na base de US$ 100 o salário mínimo.
Como é impossível esse crescimento, tal aumento salarial vai terminar em aumento de preços, a volta da inflação e a destruição, de novo, do poder aquisitivo dos trabalhadores. Como aconteceu no Plano Cruzado, de 1986, quando os salários, convertidos pela média, tiveram em seguida um abono real de 8% e de 16% para o mínimo. Houve um enorme aumento da capacidade de consumo, sem o correspondente aumento de produção, tudo terminando em inflação.
Ao lançar a URV, FHC disse que plano de estabilização, se não precisa impor arrocho, não pode oferecer "distribuição prematura e ilusória de renda". Quando se pergunta por que, então, ele concordou em formar a comissão para estudar a elevação do mínimo até US$ 100, os assessores da Fazenda respondem que foi um modo de salvar a cara de Barelli. Asseguram que a comissão vai ficar estudando durante longo tempo.
Em resumo, a equipe acha que, convertidos pela média, todos os salários mantiveram seu poder aquisitivo (o valor real) e, em URV ou real, estarão protegidos contra a desvalorização. A idéia da equipe é que todos os arranjos salariais pós-URV sejam feitos diretamente entre sindicatos e empresas, sem interferência do governo. Cada empresa sabe quanto pode pagar, cada sindicato deve saber até onde pode pedir ganhos reais sem forçar a empresa a aumentar preços e perder competitividade.
Ocorre que os sindicatos e parlamentares pensam diferente. E a bola fica de novo com FHC.

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