São Paulo, terça-feira, 15 de março de 1994
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Varig deixa de pagar aviões por dois meses

LUIZ CAVERSAN
DIRETOR DA SUCURSAL DO RIO

Varig deixa de pagar aviões por dois meses
A Varig –principal companhia aérea brasileira e maior da América do Sul– anunciou ontem a suspensão do pagamento, por dois meses, dos contratos de "leasing" (aluguel com preferência de compra) de 50 de suas aeronaves. A decisão foi anunciada na sede da companhia no Rio por seu presidente, Rubel Thomas.
A Varig possui 80 aeronaves –entre Boeing e McDonnell-Douglas–, 50 das quais com contratos de "leasing". Segundo Thomas, a suspensão do pagamento para renegociação (que será conduzida pela empresa norte-americana de consultoria financeira Bankers Trust) ocorre dentro do plano de reestruturação da companhia, que vem acumulando prejuízos desde 1990. No ano passado, o resultado negativo foi de US$ 380 milhões.
A Varig paga por suas aeronaves a quantia de US$ 500 milhões ao ano. O adiamento por dois meses significa um fôlego, neste período, de US$ 83 milhões. Rubel Thomas não informou quais são os credores –disse apenas que são japoneses, norte-americanos e europeus– nem quanto é a quantia devida a cada um deles. Mas afirmou que o primeiro pagamento do mês de março, que deveria ocorrer hoje, não será feito.
Thomas explicou que a companhia trabalha com dois tipos de "leasing", os operacionais (o contrato é feito com o fabricante ou seu representante, contra um depósito em dinheiro) e os financeiros (contrato em que a garantia é a própria aeronave). Dos contratos da Varig, 70% são financeiros e 30% operacionais (com depósitos somando US$ 100 milhões).
Defasagem
Rubel Thomas apresentou basicamente dois motivos para justificar a necessidade de "chamar os credores para conversar". O primeiro: "Existe uma oferta muito grande de leasing hoje no mercado internacional. Por isso, os preços caíram muito, mas nós estamos pagando preços negociados quando eles estavam bem mais altos".
Segundo motivo: no ano de 93, a Varig faturou quase US$ 2,5 bilhões. Mas a geração operacional –ou seja, o dinheiro disponível para cobrir o custo dos investimentos– foi de 19%, ou US$ 460 milhões. "Insuficiente para fazer frente aos investimentos, que estão na casa dos US$ 500 milhões", diz Thomas. Ele garantiu que nenhum tipo de compromisso no mercado interno será afetado.
Apesar deste tipo de atitude ser inédito no mercado brasileiro, Thomas lembra que as dificuldades no mercado internacional da aeronáutica já levaram outras empresas a buscar a renegociação de dívidas. Citou, entre outras, United Airlines, Continental e SAS.
"Nós vamos pagar tudo e manter todos os nossos compromissos", garantiu Thomas, lembrando que a Varig, em 67 anos de existência "sempre honrou seus compromissos".
Economia
Desde o ano passado, a Varig passa por uma reestruturação administrativa com o objetivo de tentar reverter o quadro de prejuízos. No ano passado, o enxugamento no quadro de funcionários levou a empresa a reduzir seu quadro de 29 mil para 25 mil trabalhadores.
"Estamos aplicando um plano de revitalização na companhia. Desde 1º de março implementamos um novo plano operacional, readequando aeronaves e rotas, o que vai gerar economia de US$ 30 milhões em 94", diz Thomas.

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