São Paulo, terça-feira, 15 de março de 1994
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Sobre letras e cores

ZECA CAMARGO

Racismo no Brasil não existe. Mentira, mas vai ser necessário esquecer como o problema é visto por aqui, para absorver algo do que um dos mais interessantes pensadores negros está dizendo nos EUA.
Cornel West é um pensador com algo útil para o movimento negro: lucidez para separar a emoção dos contra-ataques racistas de seu próprio grupo e fazer as pessoas entenderem que os problemas não estão na cor. Claro que raça conta, como o título de duplo sentido do seu último livro mostra ("Race Matters" pode ser lido tanto como "Questões de Raça" como "Raça é Importante"). Mas Cornel vai além, e ataca personalidades que "contribuíram" pela causa negra.
Louis Farrakhan, por exemplo. Líder atual da Nação do Islã (movimento/religião que já teve Malcolm X como defensor), ele tem causado furor com a pregação anti-semita e "elogios" a Hitler. Cornel não tem o menor pudor de criticá-lo. E sobre a recentemente reaquecida querela entre negros e judeus ele diz que o anti-semitismo negro é "o fruto amargo de um profundo impulso autodestrutivo".
Cornel está sendo o primeiro a dizer que o problema é mais profundo, resultado de um "declínio econômico, uma decadência cultural e uma letargia política na vida americana".
O Brasil poderia aprender umas lições, assim que Cornel West fosse traduzido por aqui. Ah, mas aqui não tem racismo, não é?

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