São Paulo, terça-feira, 15 de março de 1994
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Injustiça garantida

Com o Brasil em meio a um plano de estabilização, é particularmente interessante observar o exemplo e a experiência de outros países que passaram por esse processo. É um exercício que contribui para reforçar, como se ainda fosse necessário, o imperativo que é a estabilização da economia como primeiro passo no longo caminho do crescimento com justiça social.
Nesse sentido, o caso do Chile é bastante ilustrativo. Em que pese as peculiaridades evidentes de cada país, ambos padecem de uma distribuição de renda perversa e de um contingente considerável de miseráveis. Nos últimos tempos, porém, o Chile vem começando a combater essa situação –e já tem alguns resultados concretos para apresentar–, enquanto que no Brasil, ao contrário, ela só parece piorar. Uma causa dessa disparidade é, sem dúvida, o fato de que o primeiro estabilizou sua economia e controlou sua inflação –a qual, como sabe todo brasileiro, constitui o mecanismo mais perverso e eficiente de concentração de renda.
A última gestão chilena, que acaba de deixar o poder, fez uma prioridade básica da preservação do equilíbrio das contas públicas que havia sido obtido pelo governo anterior. Com isso, derrubou a inflação de 21,4% ao ano em 1989 para 12,2% em 1993. O país cresceu a uma taxa média anual de impressionantes 6,3% de 90 a 94 e o desemprego caiu a 4,4% da força de trabalho, o menor em 20 anos. O total de habitantes abaixo da linha da pobreza, embora ainda muito elevado, caiu em 20% no período.
É certo que crescimento econômico e inflação baixa não garantem automaticamente distribuição de renda mais justa. O fato é que inflação alta garante distribuição de renda mais injusta –além de um ambiente de incerteza que dificulta muito o crescimento. Estabilizar a economia pode ser apenas o primeiro passo para o desenvolvimento social. Mas sem dar o primeiro passo não se vai a lugar algum.

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