São Paulo, sexta-feira, 18 de março de 1994
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FHC diz que vive sua 'decisão mais difícil'

INÁCIO MUZZI
DO PAINEL EM BRASÍLIA

"É a decisão mais difícil da minha vida ", comentou com correligionários do ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, ao se referir à sua candidatura presidencial. Mas na cúpula do PSDB não havia ontem dúvidas: apesar de toda sua angústia, Fernando Henrique Cardoso deixa o Ministério para disputar o Palácio do Planalto.
Os dirigentes tucanos aguardam para esta segunda-feira uma sinalização mais nítida de Fernando Henrique. Ontem, eles foram informados de que o ministro passaria com a mulher, Ruth Cardoso, em Washington, para que a decisão tivesse início no consenso familiar. A família mostra-se temerosa com o que viria no jogo bruto da campanha.
No domingo passado, Fernando Henrique expôs seus temores a seu amigo Sérgio Motta, durante encontro na fazenda da qual ambos são proprietários, em Unaí (MG). Seu medo é de que sua saída comprometa o sucesso do plano e, em consequência, sua biografia e candidatura.
Fernando Henrique está sensível às acusações de que estaria aproveitando-se do cargo e, assim, num gesto "oportunista", sair candidato. Também se mostra incomodado com críticas sobre sua aproximação com o PFL, acusado de incoerência.
O presidente Itamar Franco tenta reduzir a taxa de incerteza e já lhe informou que o futuro ministro da Fazenda seria quem o ministro considerasse ideal para o cargo. Fernando Henrique já comunicou ao presidente que estava disposto a deixar o governo, idéia que foi apoiada.
Estão sendo articuladas uma série de eventos para facilitar o anúncio de Fernando Henrique: grupos de parlamentares vão se revezar pedindo que ele dispute a Presidência para, argumentam, defender melhor seu plano. São aguardadas também manifestações de lideranças empresariais e intelectuais.
Dentro do partido, buscam-se caminhos para facilitar as negociações com outros partidos, como o PFL, reduzindo eventuais pressões dos grupos inconformados. Fernando Henrique diz estar convencido de que sua candidatura não pode sair isoladamente, necessitando de outros apoios – Itamar Franco esforça-se para que o vice venha de Minas, articulando o nome do governador Hélio Garcia.
O raciocínio de Fernando Henrique está baseado na experiência da candidatura presidencial de Mário Covas, em 1989. Segundo o ministro, Covas perdeu porque não tinha apoios fora do PSDB, capaz de levá-lo ao segundo turno com Luiz Inácio Lula da Silva. A visão é compartilha pela cúpula do PSDB, em particular pelo seu presidente, Tasso Jereissati, e pelo governador Ciro Gomes, articuladores de um acerto com o PFL.

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