São Paulo, sexta-feira, 18 de março de 1994
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Safra sobe 7,8% e é recorde

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA E DA REPORTAGEM LOCAL

O governo estima que colherá a maior safra da história do país este ano, com 73,6 milhões de toneladas de grãos –crescimento de 7,8% sobre a anterior. Segundo o ministro da Agricultura, Synval Guazzelli, o aumento da produção de feijão poderá ser sentido pelo consumidor nos próximos 45 dias, quando os preços deverão cair.
"A disparada dos preços do feijão aconteceu por causa da falta de chuvas no Nordeste, mas vamos ter uma segunda safra bem melhor, que tende a normalizar a venda do produto ao consumidor", disse o ministro.
O ministro defendeu a suspensão da importação de alimentos no período de comercialização. "É um erro importar alimentos no momento em que estamos comercializando nossos produtos. No período de comercialização ou não importa, ou eleva o valor da alíquota de importação", disse o ministro. Para tentar reduzir o aumento dos preços dos alimentos neste período de implantação da URV, o Ministério da Fazenda reduziu a alíquota de importação de uma série de produtos.
Guazzelli disse que há armazéns suficientes para a colheita deste ano e informou que o governo tem os US$ 2 bilhões necessários para a comercialização. Ele disse ainda que serão destinadas 100 mil toneladas de trigo que estão guardadas em armazéns do governo para a campanha contra a fome e a miséria. Estes grãos vão ser trocados por macarrão e devem atender 2 milhões de famílias no Nordeste.
Em São Paulo, o presidente da Sociedade Rural Brasileira, Pedro de Camargo Neto, disse que o governo está tentando capitalizar uma safra que não foi obtida com sua colaboração. "Ao contrário. Tudo que o governo pode atrapalhar, atrapalhou", disse, em referência à escassez de recursos oficiais para financiamento do plantio.
Camargo Neto disse ainda que o resultado se deve ao esforço do agricultor, que utilizou capital próprio, e à ocorrência de chuvas no momento certo e em boa quantidade. Segundo ele, a safra vai ser "muito boa para o país e para o plano econômico".
URV
O ministro da Agricultura defendeu ontem a conversão dos preços agrícolas para URV (Unidade Real de Valor). Ele disse que para esta mudança ser feita, o governo teria de converter também as cadernetas de poupança, de onde são captados os recursos para o setor. Ele disse que vai levar a proposta para a equipe econômica.
Na opinião de Guazzelli, se não houver a mudança, haverá problemas para o sistema financeiro e poderá faltar recursos para a agricultura. Neste caso, disse o ministro, o setor teria de captar dinheiro a juros de mercado. "Isto a agricultura não suporta, a não ser que haja subsídio do Tesouro", observou.
A argumentação do ministro não tem consistência. A variação da TR (que corrige as cadernetas de poupança) tem sido ligeiramente superior à da URV. Além disso, a lei das exigibilidades obrigam que o repasse 25% dos recursos da caderneta para o crédito rural. Guazzelli quer que a remuneração aumente para sustentar o financiamento agrícola.
Guazzelli lembrou que na MP (medida provisória) que criou a URV tanto a poupança quanto o crédito rural e a comercialização da safra ficaram de fora da conversão. As mudanças atingiriam a próxima safra.
STF
Depois de afirmar que desconhecia o teor da liminar do STF (Supremo Tribunal Federal) que suspendeu a correção pela TR para os contratos assinados antes de 1991, o ministro da Agricultura disse que se a medida atingir a área rural, poderá fechar negociação com o Banco do Brasil. "Talvez isso até acelere a adoção da URV como indexador de preços no crédito rural, seria uma forma de normalizar", justificou.

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