São Paulo, sexta-feira, 18 de março de 1994
Texto Anterior | Índice

Bjork diz que nunca quis ser cantora

EVA JOORY
DA REPORTAGEM LOCAL

Entrevista com a cantora islandesa Bjork
Uma voz ainda infantil, que se equilibra entre o desafinado e o atonal. Esta poderia ser a melhor definição para a voz da cantora islandesa Bjork, 28 (pronuncia-se Byerk). Depois de dois anos como frontwoman da banda Sugarcubes, Bjork resolveu investir na carreira solo. Seu disco de estréia, " Debut" estourou principalmente na parada dance da Inglaterra.
Produzido por Nellee Hooper (ex-Soul II Soul), Bjork investiu – segundo ela sem querer – na dance. Em entrevista à Folha por telefone de Londres, com um sotaque bastante carregado, Bjork disse que nunca pensou em ser cantora, mas que se apaixonou por música aos 11 anos. "Sempre toquei todos os tipos de instrumentos. Quando os Sugarcubes se juntaram, virei a cantora da banda. Mas aquela música não era a minha música".
Folha - Você achou estranho ver seu disco na parada dance?
Bjork - Foi uma surpresa. Eu não tinha nenhuma expectativa com relação a este disco, nem de fazer nenhum tipo de trabalho direcionado. Não quis agradar ninguém.
Folha - Foi sua idéia chamar Nellee Hooper para a produção?
Bjork - Sim. Eu já tinha prontas seis músicas do disco quando ele chegou. "Debut" já tinha um sabor dance. Vi que ele era a pessoa certa, aberta, com as mesmas idéias que eu. Não conhecia o seu trabalho e isso não me importava.
Folha - Você gosta da dance music, frequenta clubes?
Bjork - Sou bastante crítica com a dance music. Gosto de ir a clubes, mas acho que 95% do que se faz na dance é lixo.
Folha - O que você acha da sua voz?
Bjork - Minha voz é só um instrumento que me possibilita trabalhar. Cantar nunca foi importante para mim, nunca tive ambição de ser cantora. Tenho mais preocupação em compor um pop perfeito.
Folha - O jeito de você cantar me faz pensar na música clássica de compositores como Schoenberg, você concorda?
Bjork - Me identifico com a ideologia de compositores como Stockhausen e Schoenberg. Acho que Stockhausen tem a receita para a música do próximo século, só não a colocou em prática. Mas não estou me comparando.
Folha - O que acha das pessoas que a consideram exótica?
Bjork - Sou exótica comparado com quem, com Meatloaf? Acho que rotular alguém de exótico é racismo. Alemães acham havaianos exóticos e talvez aí no Brasil, vocês achem os esquimós exóticos. As pessoas só querem ter algo para dizer, do tipo "como ela é estranha, esquisita", não querem lidar com os fatos, isso me irrita.
Folha - O que aconteceu com os Sugarcubes?
Bjork - Foi uma brincadeira. Era uma banda de poetas, ninguém sabia tocar. Mas nos levaram a sério. Ganhamos viagens, hotéis e comida de graça; só tínhamos que fazer de conta que éramos uma banda de rock. Éramos estúpidos e ingênuos. Nunca fomos profissionais.
Folha - Qual a razão para você ter gravado "There's More To Life Than This" ao vivo no banheiro do clube Milk Bar?
Bjork - Essa crueza foi sugestão de Nellee. Gosto de música conectada com a realidade.

Texto Anterior: John Mayall toca em SP no final do mês
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.