São Paulo, sexta-feira, 18 de março de 1994
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John Mayall toca em SP no final do mês

HÉLIO GOMES
DA REDAÇÃO

John Mayall está de volta. O inglês promete repetir a dose do memorável show que fez no Free Jazz de 89 em duas apresentações, dias 28 e 29, no Palace. Mayall se apresenta resguardado por sua tradicional banda, The Bluesbreakers, escola de músicos do calibre de Jack Bruce, Mick Taylor e, claro, Eric Clapton. A novidade é a presença do guitarrista Buddy Whittington, no lugar do virtuose Coco Montoya, que acabou quase roubando a cena nas apresentações de 89. Completam o grupo o baixista Ricky Cortes e Joe Yule.
Depois de mergulhar fundo na fusão de jazz e blues, durante os 70 e 80, o compositor resolveu retomar a fórmula original de seu som, calcada nos instrumentos básicos do blues elétrico –além do trio que o acompanha, Mayall toca guitarra, órgão e gaita. Falando de sua casa em Los Angeles, o bluesman contou à Folha que seus shows devem ser baseados nas canções de seu 37º disco, "Wake Up Call", lançado em 93.
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Folha – Como vão ser os shows aqui no Brasil?
John Mayall – Estamos ansiosos para tocar em São Paulo. Me lembro bem dos dois que fizemos aí alguns anos atrás. O público foi muito receptivo. O show vai ser baseado em meu último disco, "Wake Up Call". Estou com uma nova banda, com um guitarrista muito bom. Seu nome é Buddy Whittington, ele é texano e está tocando conosco desde janeiro.
Folha – Ele é capaz dar seguimento à sua tradição de revelar grandes guitarristas?
Mayall – Sim, eu tenho que acreditar nisso, pois minha reputação está nas mãos dele. Buddy é uma ótima aquisição para a banda. Eu acredito na sua música, e a entrada dele nos Bluesbreakers trouxe nova vida ao grupo.
Folha – Em meados dos anos 70 você gravou um disco chamado "Jazz and Blues Fusion". O que você acha de grupos como o US3, que misturam jazz e Rap?
Mayall – Quando eu gravei esse disco, não considerava essa fusão algo tão importante. Para mim era uma coisa natural. Muitas pessoas já vinham fazendo esse tipo de coisa. Acho que não fui o primeiro a fazer isso. Jazz e blues pertencem à mesma família. Eu tento não analisar demais a música, então acabo não prestando atenção nas coisas muito novas. Você toca e alguém ouve, só isso.
Folha – Você gosta dos últimos trabalhos de Eric Clapton?
Mayall – Claro que não aprecio tudo que ele vem fazendo, mas isso não importa muito para mim. O fato da caixa "Crossroads" (coletânea de Clapton com quatro CDs lançada em 88) ter trazido faixas como "I'm Your Witchdoctor", que gravamos juntos no início dos anos 60 para pequenos selos ingleses, foi muito importante para mim. São coisas que colecionadores realmente sérios conseguem. Eu tinha esse problema quando morava na Inglaterra e tentava comprar discos americanos.
Folha – Por falar nisso, você refez sua famosa coleção de discos de blues depois do incêndio que a destruiu em 79?
Mayall – Não, não tive disposição para reunir todo aquele material novamente, mas tenho a maior parte dos discos gravados em fitas. O CD também abriu novas perspectivas. Muito material que nunca havia sido lançado acabou sendo editado em CD. Na verdade, o que realmente importa para mim é a música.
Folha – Como você encarou a morte de Albert Collins?
Mayall – O blues é um universo muito interessante, dinâmico. Sempre há público para o estilo. É muito trite quando perdemos alguém como Collins, mas isso não muda muito o cenário geral. O blues sempre seguirá em frente.

O colunista JOSÉ SIMÃO está em férias no mês de março

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