São Paulo, sábado, 19 de março de 1994
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Médica é acusada de negligência

SILVIA QUEVEDO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM FLORIANÓPOLIS

A médica hematologista Zelita Silva de Souza, 50, que trabalha no hospital da Universidade Federal de Santa Catarina, está sendo acusada pela família de Sandra Gama Geraldo, 28, de negligência por demorar a autorizar uma transfusão de sangue na paciente, portadora de anemia falciforme e que morreu há seis dias. A direção do hospital afirma que a médica –adepta das Testemunhas de Jeová (religião que não permite transfusões)– atendeu a paciente e que a transfusão foi feita.
A anemia falciforme deixa o paciente sujeito a infecções e crises de anemia agudas muito rápidas. Sandra ficou internada três dias no hospital e morreu 17 horas depois de ter sido levada à Unidade de Tratamento Intensivo. O marido dela, Devânio José Geraldo, 33, disse que a mulher não recebeu o tratamento adequado, que foi medicada com soro e oxigênio e que a transfusão só foi realizada quando ela estava para morrer, "por ordem de outro médico". Geraldo culpa a médica por "negligência e omissão", porque "ela não aparecia e não autorizava a transfusão". "Ela vinha tratando a Sandra e, quando foi procurada pela família, disse que minha mulher estava excelente. Além de não dar atenção, porque a Sandra estava trêmula, gelada e o hemograma tinha se alterado muito, ela não comunicou outro médico." Ele disse que vai processar a médica. "Hoje mesmo vou falar com o advogado. Não somos Testemunha de Jeová. Sabíamos que ela era, mas na hora ninguém pensou nisso. Ela pode até ser, não tenho nada contra, mas é obrigada a atender esse tipo de emergência.".
Zelita, que é professora de hematologia do curso de medicina da UFSC, não foi localizada ontem no hospital, na universidade ou em sua casa. Geraldo, os quatro filhos e outros parentes participaram ontem da missa de 7.º dia da morte de Sandra, numa igreja do bairro Trindade, a poucos metros do HU. O diretor do hospital, Carlos Eduardo Pinheiro, 39, disse que a paciente foi atendida e que recebeu a transfusão.
O Conselho Regional de Medicina informou que não irá se pronunciar enquanto não receber questionamento oficial da polícia. De acordo com o delegado Nazareno Zacchi, 44, que investiga a denúncia, o inquérito policial será instaurado na próxima semana. Ele disse que conversou "informalmente" com a médica. A médica disse à polícia que pertence à religião, mas que nunca negou atendimento a não-adeptos.

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