São Paulo, sábado, 19 de março de 1994
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Preço de tecido aumenta até 30% em dólar

DA REPORTAGEM LOCAL

A memória inflacionária está contaminando o dólar, moeda cuja cotação serve de equivalência para a URV (Unidade Real de Valor) no setor têxtil. A maioria das tabelas das indústrias do setor têxtil chegam ao varejo com o preço expresso em dólar desde janeiro. Em fevereiro e março, as novas versões apresentaram reajustes sobre as cotações de janeiro. Os aumentos variam entre 5%, caso dos tecidos mistos de polyester e algodão, e 30%, índice aplicado para o metro de índigo.
Segundo Manoel Ramos, diretor da Abravest (Associação Brasileira da Indústria do Vestuário), os aumentos em dólar refletem a crença da indústria têstil de que o governo vai aplicar o controle de preços na mudança de padrão monetário. "Por isso, estamos lutando pela redução das alíquotas de importação de tecidos", afirma. "O problema mais sério ocorre com o índigo, pois é fabricado por um pequeno grupo de empresas."
As maiores fabricantes de índigo do país –Alpargatas, Moinho Santista, Vicunha e Santa Isabel- avisaram aos confeccionistas que o preço do índigo continua subindo por causa da elevação da cotação do algodão. O argumento, porém, não convence a Jorge Hamuche, presidente do Sindicato dos Atacadistas de Confecções, e seus associados.
"Isso é especulação. O aumento do preço do algodão não justirica pois eles têm preço fechado até 95", diz Hamuche. "As novas tabelas deverão chegar com mais aumentos. Já me avisaram que o preço do índigo pode ir para US$ 4,00."
Em janeiro, o preço do metro quadrado do índigo US$ 2,50, na média. Hoje, custa US$ 3,50. "Eu parei de comprar", afirma Nassib Khaznadar, dono da Indústria Start, fabricante de 100 mil calças de jeans por mês. "Só estou produzindo a quantidade possível com o tecido que tenho no estoque."
Segundo Gustavo Loyola, ex-presidente do Banco Central e consultor econômico da MCM, os reajustes fortes começaram quando o governo insinuou que poderia adotar um tabelamento. "Não há justificativa para as remarcações em URV e dólar, mas explicações", afirma. "Essa reação foi provocada pela atitude beligerante do governo em relação a preços."

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