São Paulo, sábado, 19 de março de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Antifã-clubes aparecem com força total

ALEXANDRE ROSSI
FREE-LANCE PARA A FOLHA

A idolatria é um hábito milenar. Fãs-clubes surgem aos montes para cada novo artista que aparece. Mas o que para muitos é motivo de adoração, para outros só provoca o mais profundo desgosto. Sentindo-se perseguidas, algumas pessoas radicalizam: está aberta a temporada de caça aos ídolos!
Já existem os antifã-clubes, onde é possível encontrar pessoas que concordam em levantar a bandeira contra o trabalho de alguns artistas, como a "Associação dos Odiadores do Ivan Lins".
Formado por músicos e técnicos de estúdio, eles se juntaram para exercitar seu desprezo pelo autor da música "Madalena" e praticar um hilário ritual de eleição do presidente da associação: quem trouxer o disco mais raro do cantor para ser estilhaçado torna-se automaticamente o presidente de honra. O que pode parecer uma heresia só enche esses rapazes de alegria e satisfação. O próximo passo será confeccionar botons com o logotipo oficial, o característico "oclinho" esmigalhado.
Outro que se encontra na mira de quatro mal-intencionados rapazes é o menestrel Oswaldo Montenegro. Tiago, Junião, PC e Cabeleira, tomados por uma ira irracional após perder suas futuras namoradas para o "bardo", resolveram institucionalizar seu ódio fundando a "Associação Beneficente Oswaldo Montenegro Must Die" (Oswaldo Montenegro deve morrer). "Alguém tinha que fazer alguma coisa para dar cabo desse ser execrável", detona PC. "Todos nós já passamos pela traumática experiência de levar uma menina para ver 'A dança dos Signos' (peça teatral de autoria de Montenegro) a contragosto e voltar chupando o dedo! Sem contar que é só alguém pegar um violão e cantar 'Léo e Bia' que se dá bem com qualquer mulher! Isso tem que acabar!"
Garotas são a causa mais comum de ímpeto que leva alguém a travar uma luta insana contra esses ídolos. Amandio Ricardo, 20, sofreu a "maldição do Menudo", quando estava na 5ª série e uma paixão colegial preferiu ficar com um pôster do grupo.
Mas não deixou barato. Montou o MAM, "Movimento Anti-Menudo" e em uma semana recolheu quase 500 assinaturas no colégio com ajuda de vários adeptos imediatamente agregados. "Uma vez fomos convidados para um programa de entrevistas e o Legião Urbana também estava lá. Todos assinaram, menos o Renato Russo..."
Mas há quem seja movido por razões que a própria razão duvida. "Aquela acéfala é perigosamente daninha para o desenvolvimento sadio das outras meninas", afirma irado o estudante de filosofia Aderson Barros sobre a atriz e "conselheira teen" Maria Mariana. Ele edita o fanzine "'Convulções de uma Aborrecente", que detona Mariana sem perdão.
O assustador editorial deixa claro suas intenções e o artigo "Minha primeira trepada" descreve como seria se seu début sexual acontecesse com um caminhoneiro babão de 180 quilos e um estivador suarento. Anderson ainda deixa escapar a maior das crueldades: "Um dia eu peguei aquelas colunas que ela escreve e costurei na boca de um sapo..."
O fanzine já é um sucesso editorial, apesar de ser vendido pelo correio. "Já recebi umas 20 cartas em dois meses", conclui feliz, enquanto termina o próximo número.
Há quem cultive sua ira até por unanimidades acima de qualquer suspeita. Cansados de verem seus amigos e o resto do mundo endeusarem o baterista do Rush e o baixista do Primus só porque eles tocam seus instrumentos de maneira sobre-humana, André Scorza, 20, Diogo Tirado, 19, e Maurício Rego, 20, formaram a banda Q.O.R.O.P., sigla que significa "Quem Odeia Rush Odeia Primus". Segundo André, para tocar como eles só depende de muito treino, o que qualquer macaco pode ser instruído para fazer. Por isso, Diogo toca vestido de macaco e André, armado, caso o baterista "tente dar uma virada".

Texto Anterior: Cisne Negro prepara nova coreografia
Próximo Texto: Evento reúne fanzineiros na gibiteca Henfil
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.