São Paulo, sábado, 19 de março de 1994
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Fim do conflito agora depende dos sérvios

TONY BARBER
DO "THE INDEPENDENT"

Representantes da Rússia e da Sérvia discutiram terça-feira o plano de paz mediado pelos EUA, ao mesmo tempo que cresciam os sinais de resistência a essa iniciativa entre os líderes das comunidades sérvias na Croácia e na Bósnia.
O enviado especial de Moscou, Vitali Tchurkin, disse depois de reunir-se em Belgrado com o presidente da Sérvia, Slobodan Milosevic, que ele se mostrou "flexível e construtivo". Mas os sérvios da Bósnia e da Croácia, minoritários nas duas repúblicas antes de a antiga Iugoslávia desmoronar, em junho de 1991, parecem menos favoráveis ao plano dos EUA. Suspeitam que o objetivo dele seja impedir a unificação de seus territórios com a Sérvia propriamente dita e restaurar as fronteiras pré-guerra da Croácia e da Bósnia.
Apoiados pelo Exército iugoslavo, os sérvios-croatas conquistaram 30% da Croácia em 1991 e estabeleceram ali a República da Krajina. Os sérvios-bósnios criaram um Estado semelhante nos 70% da Bósnia que estão sob seu controle. Os dois grupos consideram suas "repúblicas" como entidades transitórias, que deverão unir-se no futuro com Sérvia e Montenegro num Estado que se estenderia do Adriático às fronteiras com Bulgária e Romênia.
O chanceler da Krajina, Slobodan Jarcevic, disse que os EUA prometeram ao governo da Croácia que essa região sob controle sérvio seria reincorporada ao Estado croata. "Minha expectativa é de uma guerra total entre a Croácia e a Krajina sérvia", afirmou.
Os EUA revelaram pouco sobre suas idéias quanto a uma solução para a Krajina. É provável que apóiem a restauração da unidade da Croácia (talvez com autonomia para os sérvios), em troca de fazer Tudjman abandonar o plano de partilha servo-croata da Bósnia.
Os sérvios-bósnios também desconfiam dos EUA. O acordo federativo assinado em Washington deixa claro que a nova unidade política será ligada economicamente à Croácia, com quem teria também um comando militar unificado. Muçulmanos e croatas poderão, assim, redirecionar seus esforços militares para desafiar os ganhos militares dos sérvios.
O presidente da Bósnia, Alija Izetbegovic, declarou que a federação muçulmano-croata deverá incluir pelo menos 60% do território da república anterior à guerra. Para os sérvios importa menos a porcentagem de território a devolver do que a capacidade de manter sob seu controle uma faixa contínua de terras bósnias entre a Krajina e a Sérvia. Essa pretensão cairá por terra se os EUA, como parece provável, rechaçarem uma Krajina independente da Croácia.
Washington está pedindo a ajuda de Moscou para persuadir os sérvios-bósnios a negociarem com a federação muçulmano-croata. A idéia seria restaurar um Estado comum às três etnias na Bósnia, ainda que na forma de uma federação de cantões étnicos autônomos, em troca do fim das sanções econômicas que a ONU impôs à Sérvia.
Parece inconcebível que os sérvios-bósnios aceitem essa fórmula, que anularia todo o seu esforço de guerra. E se a Rússia acha que os sérvios têm razão, então a paz na Bósnia ainda é algo distante.

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