São Paulo, domingo, 20 de março de 1994
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Construção está nas mãos de poucos

ELVIRA LOBATO
DA REPORTAGEM LOCAL

Os principais setores da economia brasileira são dominados por oligopólios, termo que define o controle da produção em mãos de poucos fornecedores. A simples contrução de uma casa envolve pelo menos seis oligopólios e três monopólios, situação em que só existe um fornecedor para o produto. Segundo o Sinduscon (Sindicato da Indústria da Construção) de São Paulo, apenas um dos oligopólios presentes no setor –o do cimento– não aumentou seu preço em dólar antes do Plano FHC.
Nos materiais para construção de uma casa, têm-se os oligopólios do fibrocimento (telhas e caixas d'água de amianto), dos fabricantes de tubos de PVC e do próprio PVC, de tintas, vidro e cimento. Esses oligopólios dependem, por sua vez, dos monopólios da nafta (matéria-prima do PVC), do minério de aminato e do vidro em placas. Para instalar as tubulações de esgoto, o construtor depende também de um quarto monopólio: o do tubo de ferro fundido.
Segundo o levantamento do Sinduscon, o material de construção que mais encareceu este ano foi a telha de amianto: a de 8 mm de espessura custou, em fevereiro, 38,15% mais caro, em dólar, que na média dos últimos quatro meses de 93. A telha de 6mm teve aumento real de 35,66% nesse mesmo período.
O mercado de telhas de amianto tem 14 fornecedores, mas só duas empresas –Eternit e Brasilit– controlam cerca de 70% da oferta. No segundo semestre de 93, as duas unificaram suas fábricas dos Estados do Rio e de São Paulo.
O minério de amianto, usado na fabricação das telhas e caixas d'água de fibrocimento, tem apenas um fornecedor no mercado: a mineradora Sama, que pertence à Brasilit (subsidiária do grupo francês Saint-Gobain) e à Eternit, de um grupo diversificado de pequenos acionistas. Teoricamente, as duas empresas podem sufocar seus concorrentes no mercado de telhas de amianto, pois elas dependem do minério da Sama.
Luiz Fernando Marchi Júnior, diretor do grupo Infibra-Permatex, que tem três fábricas de produtos de fibrocimento e 10% do mercado, diz que não teve dificuldades até agora para obter a matéria-prima de seus concorrentes. "Nossa situação não é confortável, mas eles têm sido fornecedores leais e não nos tem faltado amianto". Ele negou que sua empresa tenha aumentado seus preços no percentual apontado pelo Sinduscon.
Pelas estatísticas dos construtores, os tubos de PVC estão em segundo lugar em aumento de preços em material de construção: em fevereiro, custaram 34,13% a mais em URV do que a média calculada pelo mesmo índices nos últimos quatro meses de 93. Este segmento começa em um monopólio, o da nafta (fabricado pela Petrobrás), e é olipolizado no fornecimento do PVC e na fabricação do tubo. Só existem dois fabricantes de PVC no país: o grupo Solvay e a CPC (Cia Petroquímica de Camaçari) e, no produto final, os Tubos Tigre têm quase metade do mercado.
Os vidros para uso na construção civil têm oligopólio na transformação e monopólio no fornecimento da matéria-prima. Há 13 anos, a Cebrace (Companhia Brasileira de Cristais) é a única fabricante de vidro plano do país e abastece as três indústrias de transformação de vidros temperados e laminados usados pelos construtores e pela indústria automobilística: Pilkington, que controla a Blindex, o grupo francês Saint-Gobain, dono da Santa Marina e a Fanavid (Fabrica Nacional de Vidros de Segurança). Ocorre que a Cebrace é controlada pela Blindex e pela Santa Marina.
Para romper a dependência do concorrente, a Fanavid está investindo US$ 129 milhões em uma nova fábrica de vidros planos em Taubaté (SP). Segundo o gerente comercial da Fanavid, Carlos Alberto Uolo, os preços internos custam cerca de 15% a mais que no exterior. "Os preços lá fora são menores, mas o mercado internacional não é fiel e por isso não importamos o produto", diz. Segundo o Sinduscon, o vidro de 10 mm custou em fevereiro 14,7% a mais, em dólar, que a média de setembro a dezembro de 93.
O indústria de cimento é o oligopólio mais famoso do país. O grupo Votorantin detém cerca de 47% do mercado e o grupo João Santos, cerca de 20%. Nos últimos meses, este setor teve uma queda real de preços, em dólar, de 7,64%, segundo o Sinduscon. O fenômeno é atribuído a um navio grego que está ancorado desde dezembro no Porto de Santos, contendo 30 mil toneladas de cimento para colocação no mercado interno. Trata-se de um volume pequeno (só 0,5% do consumo anual de São Paulo), mas suficiente para influenciar o comportamento dos fabricantes locais.
Segundo levantamento dos construtores paulistas, as tintas latex custavam, em fevereiro, 14,57% a mais em URV, do que na média do último quadrimestre de 93. Este segmento, segundo a Associação Brasileira de Tintas, tem 300 fabricantes. É abastecido por cinco grandes indústrias: a holandesa Akso, fabricante das marcas Ipiranga e Vanda; a Coral (do grupo Bunge do Brasil); a Glasurite (da Basf alemã), da marca Suvinil; a Tintas Rener (grupos Rener, Dupont e Hoechst) e a Sherwin Williams, de capital americano.

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