São Paulo, domingo, 20 de março de 1994
Próximo Texto | Índice

ELE VAI CORRER SÓ

FLAVIO GOMES
DA REPORTAGEM LOCAL

Que ninguém tenha ilusões em 94. O Campeonato Mundial de Fórmula 1 que começa daqui a uma semana, no circuito de Interlagos, reserva emoções a apenas um piloto e uma torcida. Ayrton Senna voltou à posição que ocupou nos seus anos dourados de McLaren –de 88 a 90. Só que, agora, além de ter o melhor carro do mundo nas mãos –o Williams–, não terá a concorrência incômoda de Alain Prost, o maior e mais perigoso inimigo que cultivou em sua vida de corredor.
O Brasil vai se emocionar porque Senna é brasileiro. Foi assim com os ingleses em 92 na torcida por Nigel Mansell e com os franceses no ano passado, acompanhando as peripécias de Prost. Para o resto do mundo, o campeonato será tão enfadonho nos resultados quando os dois últimos.
Os mais otimistas arriscam dizer que as novas regras da F-1 vão restabelecer o equilíbrio perdido. Não é bem assim. A história de cada GP pode, é verdade, ser mais interessante. Haverá muitas paradas nos boxes para reabastecimento, uma maior alternância de líderes e disputas mais parelhas nas posições intermediárias. Mas a champanhe será estourada quase sempre pelo mesmo sujeito.
O fim da eletrônica colocou no mesmo saco as equipes pequenas e médias, mas não acabou com o domínio imposto pela Williams desde meados de 91. O time da cidade inglesa de Didcot não chegou ao topo apenas pela competência com que lidava com chips e computadores. Frank Williams sempre teve, a ajudá-lo, um grande piloto e um impecável fornecedor de motores, a Renault.
Em 94 não será diferente. E as coisas ficaram ainda mais fáceis por causa da vertiginosa queda de qualidade da McLaren. A trupe de Ron Dennis vem despencando desde o fim de 92. Primeiro a Honda disse arigatô e puxou o carro. Depois foi a vez de Senna. Sobraram um finlandês rapidinho, Mika Hakkinen, e um motor muito jovem, o V10 da Peugeot. A McLaren nunca será medíocre, disse Frank há dois meses. Errou. Este ano será.
Senna tem se esmerado em declarações que descartam o favoritismo absoluto. Para ele, sua equipe foi a que mais perdeu com as novas regras. Ayrton chegou a considerar a Ferrari como grande adversária no campeonato. Os primeiros testes da nova 412t1, porém, desmentiram o brasileiro.
Quem pode assustar, eventualmente, é a Benetton. Os coloridos conseguiram um motor melhor, o Ford Zetec, conhecem cada parafuso de seu carro e têm um piloto que se acha o máximo –e é quase isso. Michael Schumacher deve beliscar uma ou outra vitória em 94. Quem acredita em algo mais do que isso também acha que Papai Noel existe.

Próximo Texto: Rivais acusam Williams de desrespeitar o regulamento
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.