São Paulo, domingo, 20 de março de 1994
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F-1 muda regras para voltar a ter graça

FLAVIO GOMES
DA REPORTAGEM LOCAL

A aposta da FIA foi alta. A entidade que comanda o automobilismo mundial passou o ano passado inteiro negociando a salvação da F-1. Enquanto os dirigentes se encontravam em intermináveis reuniões, os índices de audiência das corridas pela TV despencavam. O balanço da temporada indicou a queda de um bilhão de telespectadores em relação a 92. Alguma coisa precisava ser feita.
Mudar as regras da categoria não foi um processo pacífico. Max Mosley, timoneiro do barco que fazia água havia muito tempo, foi obrigado a jogar sujo para convencer as equipes grandes a abrirem mão dos avanços tecnológicos conquistados nos últimos anos. Ele tinha o apoio das pequenas, desesperadas com o aumento vertiginoso dos custos e com a redução, diretamente proporcional, de suas receitas publicitárias.
Num front estavam McLaren e Williams. Esse pequeno, mas influente, exército defendia a manutenção de tudo que fazia de seus carros bólidos quase auto-suficientes. Não queriam o fim da suspensão ativa, do controle de tração, do acelerador eletrônico e dos câmbios automáticos.
Mosley, no meio do ano, usou as armas que tinha para que as grandes se rendessem. Orientou os comissários do GP do Canadá a decretarem a irregularidade de todos os carros que usassem suspensões ativas, controles de tração e dispositivos que erguiam e abaixavam as máquinas. O preço para permitir que todas as equipes fossem até o final do campeonato sem ter que construir carros novos foi aceitar as regras impostas para 94. O ardil funcionou à perfeição. Em Hockenheim, Alemanha, todos os times, como cordeirinhos, abaixaram a cabeça para o dirigente.
Sem os equipamentos de ajuda aos pilotos, o campeonato, teoricamente, deveria ser mais equilibrado. O fator humano também, em tese, seria mais valorizado. São meias-verdades. A única medida efetiva de reequilíbrio é o reabastecimento, que vai ressuscitar as estratégias de corrida e transformar cada GP numa verdadeira roda-viva, com mudanças frenéticas de posições e de líderes. Mesmo que os resultados finais sejam os esperados, será possível ver pilotos desconhecidos nas primeiras posições em algumas voltas, o que agrada os desconfiados patrocinadores dos times menores.
É muito provável que o aumento dos pit stops não altere o quadro de favoritismo já estabelecido. O equilíbrio viria, apenas, nos momentos em que as equipes de ponta cometessem deslizes em seus pit stops. Mas, pelo menos, a emoção está garantida.
Se não restabelece o equilíbrio, a iniciativa da FIA, pelo menos, garante a sobrevida dos minúsculos. Ninguém vai precisar torrar dinheiro em equipamentos caríssimos. Podem usar a verba para testes e motores, por exemplo. O campeonato deste ano, assim, começa com duas equipes a mais em relação às que terminaram o Mundial de 93. No ano passado, a March faliu antes de começar a temporada e a Scuderia Italia fechou suas portas em Portugal. Ficaram 12 times. Neste ano, essa dúzia terá a companhia das estreantes Simtek e Pacific, que conseguiram chegar à F-1 sem gastar os tubos, afinal.
Se todas chegarem ao fim de 94 com saúde financeira, a aposta de Mosley e seus cupinchas terá valido a pena. Se algum piloto anônimo de um time médio chegar ao pódio, então, que se erga um busto do velho Max na Place de La Concorde, em Paris. Ele merece.(FG)

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