São Paulo, domingo, 20 de março de 1994
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Revolução de 'mago' decepciona Ferrari

JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
DA REPORTAGEM LOCAL

O comendador Enzo Ferrari conseguiu em vida vários sinônimos para seu nome: qualidade, velocidade, dinheiro e até mesmo um tom inconfundível de vermelho. Depois de morto, em 1988, no entanto, seu nome começou a perder certos significados. O grande timoneiro da escuderia mais tradicional da F-1 deixou órfão os seus. Principalmente os fanáticos ferraristas, que amargam a estiagem de títulos desde 79 e estão há 50 GPs sem ver o carro vermelho em primeiro.
Mesmo prescindindo de uma Parmalat para quebrar os jejuns –o que não falta é dinheiro–, a Ferrari montou um time de craques para sair do atoleiro. O projetista John Barnard, "mago" inglês que revolucionou a categoria com carros como o MP4/4 e o Benetton "tubarão"; Osamu Goto, engenheiro japonês que desenvolveu os motores aspirados da Honda responsáveis pelo tri da McLaren nos anos 80; Jean Todt, o francês que deu à Peugeot um monte de títulos como diretor-esportivo. Completam o time o ex-piloto Niki Lauda, o engenheiro Gustav Brunner e Claudio Lombardi, além dos pilotos Gerhard Berger e Jean Alesi.
Um grupo de notáveis que permitiu a Senna declarar "que as coisas não iriam ser tão fáceis assim para a Williams em 94, ainda mais com a extinção da suspensão ativa". No mês passado, a gestação de quase um ano e meio de Bannard deu fruto ao 412t1, um carro considerado revolucionário. Dia de testes em Barcelona: Alesi e Berger não conseguem dar quatro voltas no circuito espanhol.
O que deu errado? À criatura, os criadores. Todt, Barnard, Goto, Brunner e Lombardi pegam um avião para ver o que aconteceu. A suspensão revolucionária, desenhada originalmente para o banido sistema ativo, com o máximo de elementos embutidos para uma mínima resistência ao ar, fez o carro sair de frente nas curvas. O também revolucionário câmbio, de tamanho reduzido, pifou. E por fim, o novo motor V12, derivado do confiável modelo de 93, quebrou.
Não bastasse tudo isso, a imprensa italiana alimenta uma fogueira de vaidades entre os dois pilotos. Berger estaria fazendo mais testes que Alesi, por seu relacionamento de outras datas com Barnard e Lauda. O francês nega para não aumentar o incêndio.
No dia seguinte, ambos baixam em cerca de três segundos as marcas até então obtidas, chegando perto do que Benetton e McLaren haviam conseguido no circuito.
São na verdade outros tempos. Apesar de o carro voltar a ser totalmente vermelho, a Ferrari aceita pela primeira vez na história um patrocínio não-técnico. Estampa em cima do motor o logotipo da Marlboro. Até o ano passado, os patrocínios eram técnicos: fulano dá os pneus, ciclano fornece o sistema de rádio... A marca do cigarro antes, continha o nome do piloto: ela pagava seu salário, um disfarce de "patrocínio técnico". O velho Enzo deve estar se revirando na tumba.(JHM)

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