São Paulo, domingo, 20 de março de 1994
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Investidor aprova plano com cautela

ANTONIO CARLOS SEIDL
DA REPORTAGEM LOCAL

O programa de estabilização econômica do Brasil ganhou o aval do grupo mais importante de investidores institucionais nos mercados de ações mundiais, mas um surto de aplicações maciças nas Bolsas brasileiras depende ainda de resultados concretos das medidas antinflacionárias.
Este foi o principal resultado de uma visita de quatro dias ao Brasil para seminários com representantes do governo e do setor privado, na semana passada, de 60 analistas de investimentos sob o patrocínio do Investment Management Institute (IMI), dos EUA, que congrega os responsáveis pela estratégia dos investidores institucionais norte-americanos e europeus.
Esses profissionais administram investimentos de US$ 700 bilhões de fundos de pensão, fundos mútuos e de companhias de seguro nos mercados de ações mundiais. Desse total, uma pequena parcela, cerca de US$ 1 bilhão, é destinada aos chamados mercados de ações emergentes dos países em desenvolvimento da Ásia-Pacífico e América Latina.
"De um modo geral, o grupo fez uma avaliação técnica favorável do plano de estabilização econômica", disse à Folha o diretor executivo e chefe de pesquisas sobre mercados emergentes do Chemical Bank, de Nova York, Thomas Trebat, e porta-voz do IMI.
"Há muita preocupação, porém, com os riscos à implementação do plano", afirmou. "Um plano como o que está sendo proposto exige uma continuidade da política econômica do país a longo prazo", disse.
Os investidores institucionais temem a solução de continuidade da política econômica durante um ano de eleições gerais. "Esse não é um plano de nove meses e sim de muitos anos", afirmou Trebat. "Os planos da Argentina, México e Chile só deram certo depois de muita perseverança", disse.
Os investidores institucionais estão cautelosos porque nada lhes garante que o próximo presidente, seu governo e o novo Congresso não vão mudar a direção do programa de estabilização.
Mesmo evitando, por uma questão de ética, comentar assuntos de política interna, Trebat admitiu que a capacidade do país de debelar a inflação precocupa mais e significa um obstáculo maior aos investimentos externos no país do que uma eventual vitória do líder das pesquisas de intenção de voto à Presidência da República, o eventual candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva.
Ele evita falar de política, preferindo dizer que, em todos os países, quando há uma mudança de governo os investidores externos recuam para uma nova avaliação dos reflexos da nova política econômica nos mercados de ações.
"O principal indicador da preocupação do IMI e de uma certa renitência que demonstra com respeito aos investimentos no Brasil resume-se numa palavra só: inflação", disse Trebat.
Depois de ouvirem exposições sobre a economia brasileira em São Paulo, Brasília e Rio, os investidores institucionais chegaram à conclusão de que o plano está bem fundamentado e que a inflação deve cair "drasticamente", até "por razões matemáticas", ao curso de 94, revelou Trebat.
O grupo, no entanto, mostra reticências. Seus integrantes acham que ainda é cedo para concluir que a inflação vai ser erradicada de vez do Brasil. Apesar disso, os estrategistas do IMI dizem que "vale a pena" manter as ações das empresas brasileiras na mira de seus investimentos, porque, disse Trebat, o país deu "uma virada" de importância histórica.
Para Trebat, essa opinião é baseada no esforço do Brasil de se inserir na comunidade internacional com a abertura comercial, combate à evasão fiscal e a discussão de reformas estruturais na revisão constitucional.
Trebat destaca como um dos fatores positivos para a atração de um fluxo maior de investimentos para os mercados de ações a conclusão das negociações do Brasil com o FMI (Fundo Monetário Internacional) e bancos credores.
"O Brasil ainda não está atraindo a mesma fatia dos recursos para os mercados emergentes do que a Argentina, México e Chile", disse. "Esses três países têm uma ponderação desproporcional em relação ao Brasil, cuja presença é pequena nas carteiras das ações dos investidores institucionais."
Trebat disse que os investidores institucionais qualificaram de complexa a situação econômica do Brasil. Ele disse, porém, que como resultado dessa viagem poderá surgir uma atitude "mais aberta" em relação ao Brasil. "O aumento do fluxo de investimentos será proporcional ao progresso do programa de estabilização com a introdução da nova moeda, o real", disse.

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