São Paulo, domingo, 20 de março de 1994
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Escolha de Sofia

LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS

Conforme nos aproximamos da data fatal para a desincompatibilização do ministro Fernando Henrique Cardoso, caso ele decida-se pela candidatura à Presidência, o mercado financeiro começa a dar sinais de grande nervosismo. Para alguns, é fundamental que ele continue no Ministério da Fazenda, comandando a implementação do Plano FHC.
Na ótica destas pessoas, a candidatura do ministro seria uma aventura, pois seu afastamento determinaria o fracasso do plano, que sucumbiria ao jogo político irresponsável do Congresso e à instabilidade estrutural do presidente Itamar. O ministro seria hoje a única pessoa com legitimidade e competência para fazer a ponte entre as decisões de política econômica da equipe técnica da Fazenda e do Banco Central e a área política representada pelo Executivo e o Legislativo.
Mas existem aqueles que corretamente apontam para a necessidade de uma garantia mínima de continuidade do plano no próximo governo. A tarefa de estabilizar a moeda em uma economia submetida a uma inflação crônica por mais de 20 anos, não se esgota em oito a dez meses.
Por mais eficiente que seja a fase três do Plano FHC, com o término da muleta da URV e a implantação do real, a indicação de que o próximo presidente não concorda com suas linhas mestras pode gerar um "salve-se quem puder" na economia. As proteções desenvolvidas ao longo dos últimos anos para permitir nossa sobrevivência em uma situação de inflação elevada, um abrangente sistema de indexação, serão quase totalmente destruídas na implantação do real.
Caso as expectativas dos agentes econômicos, pegas no contra-pé dos resultados das pesquisas de intenção de voto, se virem contra o futuro do plano, a situação vai ficar muito complicada. Na opinião de muitos, somente FHC poderia garantir esta continuidade, por ser o único político com condições reais de bater nas urnas as candidaturas já colocadas.
É evidente que estas duas visões, cada uma com sua lógica aparentemente correta, nos levam a uma situação de conflito insolúvel. Principalmente por mexer com as expectativas já acirradas dos agentes econômicos nacionais e estrangeiros.
Agregando-se a esta situação os problemas concretos de gestão do plano durante os próximos meses, chegamos a um cenário muito delicado. A decisão que o ministro vai ter que tomar nos próximos dias é fundamental para o nosso futuro. E o mercado financeiro sabe disto!

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