São Paulo, domingo, 20 de março de 1994
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Não fiz nenhum erro, diz Luxemburgo

MARCELO DAMATO
DA REPORTAGEM LOCAL

Os recentes tropeços do Palmeiras, que nos últimos jogos perdeu dois e empatou um, não abalaram a autoconfiança do técnico Wanderley Luxemburgo. Contra a corrente de críticas que recebeu pelas estratégias que escolheu contra o Corinthians (0 x 1) e Rio Branco (1 x 1), diz simplesmente que não cometeu "nenhum erro tático".
Para Luxemburgo, a queda do Palmeiras se deve, por um lado, à falta de tempo para treinar e, por outro, por problemas na cabeça dos jogadores. Ele diz que a aproximação da convocação para a Copa dos EUA tem feito vários jogadores selecionáveis caírem de produção. Além disso, afirma que boa parte de sua equipe não se adaptou ao fato de jogar três campeonatos diferentes ao mesmo tempo. Leia, a seguir, os melhores trechos, da entrevista concedida à Folha na madrugada de ontem.
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Folha - O Palmeiras perdeu dois e empatou um de seus três últimos jogos. O que há de anormal na equipe?
Wanderley Luxemburgo - Os resultados não são anormais. Eles estão dentro da normalidade. Não é porque isso acontece que exista algo errado dentro do Palmeiras.
Folha - Mas o time não vem jogando bem...
Luxemburgo - Isso é uma coisa delicada de falar. O Palmeiras tem nove, dez jogadores que são selecionáveis. Eles tentam não pensar nisso, mas num ano de Copa eles ficam muito angustiados com a possibilidade de convocação. Isso é inconsciente, mas afeta o desempenho do jogador. O São Paulo tem vários jogadores em situação igual, como o Palhinha. Isso explica porque neste ano o Palmeiras e o São Paulo caíram mais.
Folha - Isso explica por que o zagueiro Antônio Carlos, normalmente técnico e preciso, esteja atuando de forma dura, às vezes dura demais?
Luxemburgo - É isso.
Folha - Segundo o Datafolha, a porcentagem de passes errados do Palmeiras nos clássicos do 1º turno subiu de 12%, contra a Portuguesa, para 17%, contra o São Paulo, e 25%, contra o Corinthians. O Palmeiras é um time que se baseia no futebol de conjunto. Isso é um sinal de que o time foi mal?
Luxemburgo - Mais ou menos. Eu analiso se o Palmeiras foi bem ou mal pelo número de passes errados do Mazinho e do Zinho. Se eles erram muitos passes, sei que o time não foi bem.
Folha - O excesso de jogos não atrapalha?
Luxemburgo - Isso impede que a gente treine como no ano passado. Mas outra coisa que influi é que os jogadores não estão acostumados a disputar três campeonatos diferentes, ao mesmo tempo. Precisamos trabalhar a cabeça deles para que se adaptem a isso, como o São Paulo já fez.
Folha - No ano passado, o São Paulo passou pelo mesmo problema e priorizou algumas competições em prejuízo de outras. O Palmeiras pode fazer isso?
Luxemburgo - É cedo para falar. Estamos bem no Paulista, na Libertadores e na Copa do Brasil. Se tivermos que optar, vamos escala os melhores na Libertadores e na Copa do Brasil, que ainda não ganhamos, e colocaremos um time não tão forte para o Paulista.
Folha - Nas derrotas para o São Paulo e Corinthians, você chamou a responsabilidade da derrota para você. Quais foram seus erros táticos?
Luxemburgo - Eu não cometi nenhum erro. Contra o São Paulo, o que aconteceu foi que os jogadores não fizeram o que estava determinado. Nós perdemos porque erramos aí. Por isso, eu disse no dia do jogo que o Palmeiras perdeu para os seus próprios erros.
Folha - E contra o Corinthians?
Luxemburgo - Eu não levei o "nó tático" que andaram dizendo. A decisão do Carlos Alberto Silva de não colocar o lateral-direito foi boa para mim. Criamos a maioria das jogadas por ali, com o Roberto Carlos. No primeiro tempo, os jogadores do Corinthians estavam perdidos em campo. Outra questão é a substituição do Amaral pelo Rincón. Já dominávamos o jogo há 65 minutos. Se o Palmeiras ganhasse, seria o virtual campeão paulista. Então eu, que jogo para ganhar, tirei o Amaral, que marcava bem, mas não apoiava. O Rincón quase marcou no primeiro lance. Só que logo depois saiu o gol do Corinthians, que mudou a história do jogo. Eu tinha alertado os jogadores para os lances de bola parada, e o gol saiu assim mesmo.
Folha - Mas na partida contra o Rio Branco (empate de 1 x 1, em São Paulo), você colocou o Mazinho como lateral-esquerdo e ele, que vinha sendo um dos destaques, fez um partida ruim. O lateral-direito Marcinho, do Rio Branco, criou várias jogadas pelo setor.
Luxemburgo - Uma coisa não tem nada a ver com a outra. Mazinho estava num dia ruim e teria sido assim em qualquer posição. Ele, treinado, é o melhor lateral-esquerdo do país. A escalação estava certa e nem era ele que devia marcar o Marcinho, mas sim o Zinho, que falhou.
Folha - Por que então você diz que assume a responsabilidade pelos erros?
Luxemburgo - Para atrair a atenção de todos para mim. Assim, a derrota fica presa na palma da minha mão, sob controle. Não posso deixar que ela escorregue entre os meus dedos e se espalhe.
Folha - Você é um treinador que dá muita ênfase ao estado psicológico do jogador. Contra o Rio Branco, o primeiro jogo em que Rincón e Edílson foram escalados juntos, nenhum dos dois recebeu a camisa 10, a que estão acostumados a jogar. Por que fez isso?
Luxemburgo - Não dei a 10 a nenhum dos dois –Rincón ficou com a 6 e Edílson, com a 8– para mostrar que não há um titular absoluto e evitar que isso criasse um problema no grupo. O Rincón é um jogador maduro e não se importaria, mas o Edílson é um garoto e poderia ficar com ciúme.

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