São Paulo, domingo, 20 de março de 1994
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Beckenbauer acha que Brasil não leva a Copa

RICARDO SETYON
ESPECIAL PARA A FOLHA, DE MUNIQUE

A Alemanha é a favorita para a Copa do Mundo dos Estados Unidos. O Brasil começa a recuperar o terreno perdido nas últimas décadas, mas ainda precisa esperar antes de conquistar uma nova Copa. Esta é a opinião de Franz Beckenbauer, técnico da seleção alemã que venceu a Copa de 1990, na Itália, e hoje no Bayern de Munique, líder do Campeonato Alemão.
Beckenbauer diz que o Brasil precisa abandonar a idéia de que a camisa amarela ainda ganha jogos. Acrescenta que o os jogadores brasileiros o fascinam, Romário especialmente. Elogia ainda Jorginho, que joga no seu time.
Leia, a seguir, a entrevista concedida por Backenbauer no estádio Olímpico, no túnel que liga os vestiários ao gramado:
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Folha - Por que a Alemanha se tornou o país europeu no qual os jogadores brasileiros raramente encontram o sucesso?
Franz Beckenbauer - É sem dúvida uma questão de mentalidade. Como sabem todos, o brasileiro conseguiu sempre bons resultados em países do sul da Europa, como Portugal, Espanha e Itália. O nosos ritmo é diferente e nossos métodos também. O jogador brasileiro não pode ser muito pressionado, por que aí ele perde a sua melhor característica: a fantasia e a criação. Uma vez disse a Pelé que aqui na Alemanha ele não seria o maior. Eu estava brincando, é claro.
Folha - E Jorginho seria um caso a parte?
Beckenbauer - Sem dúvida. Ele é o melhor jogador vindo do Brasil que apareceu na Alemanha. Acredito que o treinador da seleção brasileira tem grande sorte em poder jogar com um jogador tão completo. Aqui no Bayern, ele é o mais importante jogador do esquema, um jogador-chave. A sua importância, em alguns momentos, supera a de Matthaeus ou a do colombiano Valência. Ele consegue estar em todas as partes do campo. Um grande astro, sem dúvida, que ajuda os meus jovens jogadores.
Folha - E qual a sua opinião sobre a seleção brasileira atual?
Beckenbauer - Acompanho o trabalho dos brasileiros quando posso, pois esse estilo de jogo me fascina. Sei que existem grandes jogadores aqui na Europa e outros tão bons no Brasil, e acho isso um problema positivo para Parreira. Basta saber administrar e usar os dotes naturais do jogador brasileiro. Sigo especialmente o trabalho dos goleadores brasileiros na Espanha, Bebeto e Romário.
Folha - Qual seria na sua opinião o melhor jogador brasileiro na atualidade?
Beckenbauer - Sem dúvida é Romário. Um excepcional goleador, que tem tudo para ser o maior artilheiro do Mundial. É um atleta que eu gostaria muito de ter no meu time e, por outro lado, não ter jogando contra mim.
Folha - E para esta Copa do Mundo, quais são os seus favoritos?
Beckenbauer - Bem, claro que o Brasil pela qualidade de seus jogadores é, sem dúvida, uma equipe candidata ao título. Sei que desta vez os brasileiros estão fazendo todos os esforços na direção de acumular o máximo de informações sobre os adversários. Sei até que a TV brasileira transmite partidas da Bundesliga (Campeonato Alemão). Mas o Brasil tem de entender que aquela superioridade do passado terminou. Agora é necessário tempo. Já são 24 anos que vocês não vencem uma Copa, e serão necessários mais alguns anos, se o Brasil continuar entrando em campo com a idéia que o nome "Brasil" e a camisa amarela vencem algum jogo.
Folha - Quais serão as possíveis surpresas?
Beckenbauer - A Colômbia e a Noruega, talvez até o México, deverão surpreender. Acredito piamente que a Alemanha seja a principal favorita, porque somos os últimos campeões e o grupo desta vez está ainda melhor que em 1990. E com um pouco de sorte, a final será Alemanha contra o Brasil...

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