São Paulo, domingo, 20 de março de 1994
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Parreira quase não erra na convocação

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

E a Seleção do Notáveis que a Folha colheu é ainda mais conservadora do que a de Parreira, quem diria? Eu diria, tranquilamente. Ao lado de uma pá de palpiteiros que, por esse mundão afora, sabe muito bem que a massa é, de hábito, conservadora e que trabalha com dados já fixados pela repetição e pelo tempo. Os notáveis não são muito diferentes. Essa Seleção de Parreira vem jogando há mais de dois anos. E nela não há nenhum disparate, nenhum cabeça-de-bagre consagrado como tal. Nem mesmo Dunga, alvo final de todas as críticas, pois trata-se de um jogador de nível internacional, que vem exercendo há anos sua profissão, aqui, na Itália e na Alemanha, três legítimos campeões do mundo. Conta-se nos dedos jogador com tal currículo.
O problema não está na escolha dos nomes. Parreira erra muito pouco, se é que erra. As convocações, como esta para o jogo contra a Argentina, seguem sensatos padrões de lógica. Assim como é saudável o princípio de que, em Copa do Mundo, não se pode abrir mão da experiência internacional dos jogadores. É na hora de armar o time e dar-lhe uma personalidade própria que Parreira tem falhado.
Sei bem que a comparação com Telê é ingrata, mas como escapar dela? Afinal, o São Paulo de Telê, em dois/três anos, ganhou todos os títulos, nacionais e internacionais, possíveis. Deu goleadas, criou espetáculos deslumbrantes, aqui e lá fora. E nesse período chegou a jogar com todos os tipos de formações, que iam dos cinco atacantes do Matinas aos seis armadores do Zagalo. Mas sempre foi um time ofensivo, transpirando esse espírito, mesmo quando se defendia. Acho que é uma questão de transferência de personalidade do técnico para o time. Por exemplo: qualquer time do mestre Brandão tinha de chegar junto, como ele dizia, desde o guerreiro Corinthians de Idário à refinadíssima Academia de Ademir da Guia.
Pelo que conheço de Parreira, aquele time com cinco atacantes, dois meias e um ponta indo e vindo estava mais à sua feição. Este, de Dungas e Zinhos, assemelha-se mais a Zagalo.
Entre a Seleção dos Notáveis da Folha e a de Parreira, apenas duas mudanças: César Sampaio no lugar de Dunga e Cafu no de Raí. Para Parreira, o time fica mais defensivo. Para os 'notáveis', ao contrário: a multiplicidade de Cafu confere mais consistência ao meio-campo e maior contundência no ataque.
Como ando extremamente conciliador, proponho uma fórmula apaziguadora entre os notáveis, o príncipe Parreira e os cinco de Matinas. O príncipe abre mão de Dunga e Zinho; os notáveis de César Sampaio e o Matinas aceita apenas três atacantes, com mais dois sempre predispostos a apoiar os da frente. Metemos Cafu ao lado do trator Mauro Silva, com, digamos, dois meias mais combativos e ofensivos, tipo Rivaldo e Viola, servindo de suporte a Bebeto e Romário. Que tal?
Não posso garantir nada, mas ainda há tempo para testar. Quem sabe, assim, a paz volte a reinar nos nossos espíritos?
*
Corinthians e Palmeiras voltam a campo esta tarde, com os sinais invertidos. O Corinthians, agora, é campeão, sim senhor, com direito a taça e tudo o mais. Afinal, terminou o primeiro turno em primeiro lugar, passando galhardamente pelos dois outros competidores mais afamados no momento –o São Paulo e o Palmeiras. Mas o Corinthians pega a velha asa negra, a Lusa. Barbas de molho.
Já o Palestra, que vem num mapa astral infernizante, precisa ganhar e bem do Rio Branco, para disfarçar o mal-estar reinante no Parque Antarctica, depois dos últimos resultados. E o Rio Branco, depois da saída de Cilinho, subiu feito rojão. Mais barbas de molho.

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