São Paulo, domingo, 20 de março de 1994
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Estudo revela desperdício na construção

ROBERTA JOVCHELEVICH
FREE-LANCE PARA A FOLHA

A perda financeira no processo construtivo no Brasil chega a pelo menos 10% do custo total da obra. Ou seja, a cada dez pavimentos construídos, um é desperdiçado. A afirmação é do arquiteto Tarcisio de Paula Pinto, doutorando pela Poli-USP (Escola Politécnica da Universidade de São Paulo), ex-professor da Universidade Federal de São Carlos e diretor-técnico de um escritório de projetos e consultoria em construção civil .
O arquiteto chegou a esse número a partir de pesquisas realizadas em 1989 e em 1993. O levantamento mais recente, feito por ele no ano passado, foi realizada pelo Norie (Núcleo Orientado para a Inovação da Edificação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul). "São pesquisas de amostragem limitada, mas realizadas com tratamento metodológico semelhante", afirma o arquiteto.
Material
As pesquisas revelaram também que no mínimo 20% do peso de todo o material envolvido numa obra é desperdiçado. Esse índice é quase o dobro dos níveis de desperdício registrados na Europa. Segundo ele, em países como a França e a Inglaterra o número varia de 10% a 15%. Desse montante, uma parte é agregada para correção de qualidade e outra vira entulho.
Resultado de projetos malfeitos, mão-de-obra desqualificada, uso de equipamentos de forma inadequada, corpo técnico (arquitetos e engenheiros) malpreparado, materiais de qualidade ruim, entre outras coisas, o entulho gerado pela construção civil alcança quantidades assombrosas. "A cada três dias, uma obra produz entulho suficiente para encher um caminhão", diz Pinto. Segundo ele, pelo menos 2.000 toneladas de entulhos são produzidas por dia em São Paulo.
Para o professor Vahan Agopyan, chefe do Departamento de Engenharia de Construção Civil da Poli-USP, é possível reduzir as perdas financeiras provocadas pelo desperdício de materiais. Vahan Agopyan acredita que a fórmula para isso pode ser desenvolvida pelas próprias construtoras, de maneira preventiva.
Para ele, as empresas devem buscar a reutilização do entulho produzido e analisar os recursos dispendidos por materiais de alto consumo energético, que podem ser substituídos. "É necessário racionalizar o uso dos materiais antes de se começar a obra", diz.
O professor afirma que, mesmo assim, é praticamente impossível que uma obra não produza entulho, mesmo que seja uma quantidade pequena. Ele recomenda que as construtoras avaliem a melhor forma de lidar com o material desperdiçado.
Lixo
Segundo Tarcisio de Paula Pinto, o entulho tem características de reaproveitamento total. Selecionadas ou recicladas, as sobras de materiais podem ser usadas em revestimentos e contrapisos, por exemplo. Segundo o arquiteto, o custo da reciclagem acaba sendo compensador se comparado aos gastos com transporte e material novo.
Para ele, além dos aspectos econômicos diretos, há ainda o custo imposto à sociedade pelo acúmulo de entulhos. Pinto afirma ainda que esse material acaba sendo depositado, quase sempre de maneira incorreta, às margens de córregos e em locais proibidos. "Além de significar uma economia de US$ 25, por m3, a reciclagem do entulho na construção civil é também uma solução ecológica", diz o pesquisador.

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