São Paulo, domingo, 20 de março de 1994
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Um relato da agonia

Um relatoda agonia
Ellen diz que quando recebemos a notícia, numa segunda-feira, ela se sentou na única cadeira do quarto de hospital. Para provar que está realmente lembrando à maneira dos Brodkey, pela teoria e método Brodkey, ela diz que Barry encostou no peitoril da janela com os braços cruzados enquanto nos dizia que eu estava com Aids. E que o tempo estava quente. E que eu estava estranhamente jovial e sensato. Eu me lembro de Barry amparando-se com um braço no parapeito da janela para depois voltar a cruzar os braços e dizer: "Você está com Aids", mantendo a pose e olhando para mim.
(...) E senti que, se tinha Aids, Ellen tinha o direito, talvez o dever, de me deixar; já que o fato de eu ter a doença suspendeu todos os contratos e emoções –estava para além do sacramento e do casamento. Representava um novo estado, no qual, de certa forma, não existíamos.

Trecho de "Dying: An Update", de Harold Brodkey

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