São Paulo, domingo, 20 de março de 1994
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As faculdades formam charlatães?

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA – Estava indeciso sobre três assuntos para esta coluna: bastidores da candidatura Fernando Henrique Cardoso, as conclusões da CPI da Prostituição Infantil obtidas com exclusividade pela Folha e a reação de militares da reserva ao aumento dos salários dos deputados. Um espantoso fax, enviado ontem, mudou definitivamente minha idéia: raras vezes vi alguém apontar com tanta sinceridade as mazelas entre seus próprios colegas.
O fax foi enviado pelo presidente da Sociedade Paulista de Cirurgia, Luiz Carlos Monteiro. Se quando eu comecei a escrever sobre ética médica tinha apenas receios, agora estou começando a ficar apavorado. Logo no início, ele informa: é cada vez maior o número de médicos despreparados. São despreparados, em primeiro lugar, porque vêm de faculdades que não prestam.
E, aí, segundo ele, aparece um gigantesco problema: "Somos um dos poucos países onde o médico apenas diplomado pode sair operando de crânios a abdomens, medicando doentes mentais ou tratando recém-nascidos. Pouco existe que o coíba." Adiante, acrescentou: "Aos Conselhos de Ética chegam apenas as denúncias mais gritantes, que escapam ao rançoso espírito de corpo ou ao próprio despreparo, quanto a seus direitos, do cidadão lesado."
Em mais um trecho, ele afirma: "O Código Penal trata o assunto com a inespecífica tríade de imprudência, imperícia ou negligência, a qual são submetidos todos os cidadãos todos os cidadãos que causem danos a outros."
Dispensam-se comentários.
PS– Está saindo cara a idiotice dos deputados que resolveram malandramente aumentar seus salários –abre-se espaço para mais idiotices. Oficiais da reserva fizeram chegar ao presidente Itamar Franco um texto defendendo o fechamento do Congresso, convocando eleições em 60 dias. Os atuais parlamentares estariam proibidos de tentar reeleição.

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