São Paulo, segunda-feira, 21 de março de 1994
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Violência assusta trem universitário

PAULO FERRAZ
DA REPORTAGEM LOCAL

A linha de trem de subúrbio que liga a estação do Brás (zona leste) a Mogi das Cruzes muda de dono hoje, mas leva consigo a fama de ser a mais violenta e perigosa de São Paulo. A CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) assume a direção da linha, até agora operada pela CBTU (Companhia Brasileira de Trens Urbanos).
Segundo estatísticas da polícia, a cada 15 dias, alguém é jogado para fora do trem da linha Brás-Mogi das Cruzes após ser assaltado. O trem se transformou na versão paulista do "trem da Morte" (que liga Bauru a Bolívia). Os "arrastões", assaltos e furtos já fazem parte da rotina, assim como as quedas acidentais e atropelamentos.
Segundo as delegacias responsáveis pelas ocorrências registradas ao longo do percurso, uma grande parcela dos casos ocorridos no trem não chega às delegacias. Segundo a polícia, só quem viaja diariamente no trem é que sabe o que acontece dentro dele.
Dois trens ligam o Brás a Mogi das Cruzes. O expresso, que vai até a Estação dos Estudantes, que fica entre os campi das Universidades de Mogi das Cruzes e Brás Cubas, e a composição conhecida como "pinga-pinga" que pára em todas as estações do extremo leste de São Paulo.
A Folha viajou duas vezes no trem expresso e ouviu relatos sobre o clima de violência e medo dentro do "Trem da Morte". Os vagões não apresentam condições de segurança. Janelas quebradas, portas que não fecham, engates sem proteção, falta de extintores, inexistência de portas e janelas de emergência e goteiras nos dias de chuva são algumas das irregularidades apontadas por usuários.
As quebras também são constantes. Lúcio Paulino, 29, estudante de Administração de Empresas na Universidade Brás Cubas, diz que já cansou de ter de andar a pé pelos trilhos até a estação seguinte quando o trem quebra. "Isso sem contar as vezes que o trem pára e tem de voltar por causa de atropelamentos na linha", diz Paulino.
Na primeira viagem feita pela Folha no "Trem da Morte", a composição deixou a estação do Brás às 17h42. Ficou parada por 15 minutos perto da estação de Ermelino Matarazzo, por causa de um acidente na linha. Voltou até a estação do Tatuapé, onde chegou às 18h45, para pegar a linha variante. Retomada a viagem, pela linha variante, o trem chegou na Estação dos Estudantes às 20h05, com mais de uma hora de atraso.

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