São Paulo, segunda-feira, 21 de março de 1994
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Métodos opostos

CIDA SANTOS

Nestes jogos finais da Liga Nacional, dois métodos de trabalhos totalmente opostos chamam a atenção. De um lado, o time feminino do BCN, comandado por Ênio Figueiredo. Do outro, a equipe masculina da Nossa Caixa/Suzano, do técnico Ricardo Navajas. Ênio prega o prazer, a imensa alegria de jogar. Acha concentração o "fim da picada". Navajas enclausurou o seu time por mais de quarenta dias em um hotel de Suzano para disputar as finais. Tirou até o telefone do quarto dos jogadores. É ele quem atende as ligações.
Uma das frases que mais dá o tom do nível linha-dura do Suzano foi a do atacante Poletto, logo depois que o seu time perdeu a segunda partida semifinal para o Banespa. "Nós treinamos direto durante todo o Carnaval e três vezes por dia. Não podemos perder o próximo jogo". E não perderam mesmo. Navajas explica essa característica de o Suzano crescer nas decisões e conquistar títulos pela relação do sacrifício. O jogador sofre, passa por privações e na hora da decisão seria como se estivesse acertando as contas. Tanto sacrifício não pode ter sido em vão. Viria daí então a garra e a gana de vencer.
Por outros métodos, o BCN também tem demonstrado uma incrível capacidade de superar situações adversas. Nas semifinais perdeu o primeiro jogo para a então favorita L'Acqua di Fiori. O time não se intimidou. Contra todos os prognósticos e previsões, venceu as duas partidas seguintes em plena Belo Horizonte e garantiu vaga na final. Voltou à quadra e perdeu os dois primeiros jogos da decisão para a Recreativa. E novamente reagiu. Venceu os dois seguintes e amanhã faz o quinto e último jogo que definirá o título.
Uma cena que vale registrar: depois de ganhar a quarta partida na quinta-feira, Ênio Figueiredo colocou o seu time no ônibus de volta à terra natal, Guarujá. Ele afastou a possibilidade de ficar mais três dias em Ribeirão Preto à espera do jogo de amanhã. O técnico acha que a concentração no hotel iria gerar angústia nas suas jogadoras. Ênio considera importante que elas se sintam bem, voltem para casa, vejam os namorados e os filhos. É claro que elas também treinam muito. E se sacrificam. Mas a palavra de ordem é a alegria, que o técnico mais pede ao time: "Vamos jogar com alegria".
Suzano e BCN: dois métodos opostos de se chegar à vitória. O mais estranho é que, embora contrários, os dois estão dando certo.

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