São Paulo, segunda-feira, 21 de março de 1994 |
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Adolescentes cultuam ídolos dos pais
ANTONINA LEMOS; RODRIGO LEITE
O carioca Marcelo Senna, 20, é um membro radical da turma dos saudosistas. Ele ama bossa-nova e não tem dúvidas na hora de dizer que preferia ter vivido naquela época. "Eu queria ter frequentado o Beco das Garrafas (galeria carioca onde a turma da bossa-nova se reunia); se eu fosse daquele tempo teria sido parceiro do Johnny Alf", diz. O garoto, fanático por João Gilberto ("o maior cantor do mundo"), não é saudosista só na música. Seu maior ídolo é o cronista esportivo João Saldanha. "Ninguém é tão bom quanto ele, nem o Nélson Rodrigues." Marcelo acha que no tempo de Saldanha "o clima era mais boêmio". Daniela Rodrigues, 16, não é tão radical, mas mesmo assim ama Chico Buarque e teve ataques no show de seu ídolo, no Palace. "Ele é maravilhoso", diz Daniela, que nem era nascida na época em que foram compostas músicas como "Quem Te Viu Quem Te Vê"e "Vai Trabalhar Vagabundo". "Mas eu também gosto de rock", ela diz. De que bandas? "Beatles, The Doors e The Birds, todas dos anos 60." Ela vai ao cinema ver mostras de Fellini e de Godard, mas mesmo assim não acha que nasceu na época errada. Cristiano Sampaio, 16, é outro que é saudosista até no rock. "Adoro Raul Seixas e Led Zeppelin." Além disso, é claro, vibra com Chico, Caetano e Gil. Acha os anos 70 "o máximo", mas pensaria duas vezes na hora de voltar no tempo. Para a psicanalista Monica Seincnan, 33, esse gosto saudosista pode ser mais do que uma preferência estética. "Depende de cada pessoa. Mas de uma maneira geral, pode ser o sintoma de uma dificuldade em se tornar independente, se libertar dos pais." Monica acha que esse comportamento não é raro, mas que algumas pessoas se sentem mal com ele. Às vezes, porém, coisas de outro tempo voltam à moda. "Quem gosta de Elvis pode viver isso como saudosismo ou como algo do seu tempo." Próximo Texto: Saudade ajuda a recompor tempo atual Índice |
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