São Paulo, segunda-feira, 21 de março de 1994
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Saudade ajuda a recompor tempo atual

ALCINO LEITE NETO
EDITOR DO MAIS!

Muitas vezes a saudade de uma época, vivida ou não, é associada a uma espécie de fuga da realidade atual, à imobilidade em relação ao presente, à mitificação de outro tempo em detrimento daquele que está aí. O saudoso parece que não vai para a frente.
Mas imagine se, ao invés disso, a saudade passasse a ser entendida como um devaneio no passado, sim, mas para ajudar a recompor o nosso próprio tempo? Estaria descoberta uma outra saudade: a saudade ativa, que injeta na vida presente, pela via da memória ou da fantasia, as delícias e as conquistas da cultura.
Nos anos 60, Caetano Veloso proclamou: "Chega de Saudade". Hoje, a gente não precisa abolir a saudade para criar outras formas de existir. Talvez ela seja até necessária, num mundo que dilui toda experiência em segundos. O saudosismo é um jeito de se (re)apropriar sentimentalmente de um passado. A saudade "ativa" é uma forma de (re)investir no presente algo do melhor que os homens viveram. Afinal, ninguém tem saudade do que é chato ou ruim.

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