São Paulo, segunda-feira, 21 de março de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Herdeiros de Laurence Olivier ameaçam Hanks

Estilo britânico e americano disputam prêmio de melhor ator

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Daniel Day-Lewis, Emma Thompson, Anthony Hopkins estão de volta, para não falar de Liam Neeson e Ralph Fiennes. Obviamente, não é de hoje a fascinação americana pelos atores britânicos. Mas já houve tempo em que tamanha fascinação e sua contraface, a reação nacionalista, provocaram um grande confronto de rua.
Foi em 1849, quando duas montagens da peça escocesa, "Macbeth", uma com o refinado britânico William Charles Macready e a outra com Edwin Forrest, criador do "estilo americano de interpretação", atingiram um tal grau de concorrência em Nova York que resultou em tumulto e morte no teatro Astor Place.
As diferenças eram as mesmas de hoje. O americano Edwin Forrest, cujo estilo teria sido vigoroso, físico e emocionalmente exagerado, chegou a ser chamado de "o gladiador" por Walt Whitman. Já Macready teria sido um ator de emoções trabalhadas, dado em Londres como esperança para a interpretação clássica.
Então, como agora, os produtores americanos corriam a Londres atrás de atores respeitáveis, formados em teatro clássico, em Shakespeare. É bem o caso dos três ganhadores do Oscar que estarão de volta hoje à noite. Não devem levar nada, pois venceram há pouco e o ano é realmente do estilo americano de Tom Hanks.
Mas são os três que estarão por ali, ameaçadoramente, com sua aura de atores de verdade. De atores, como no caso de Daniel Day-Lewis, que foram até chamados antes para os papéis dos americanos favoritos. No caso, Day-Lewis trocou o emocionante portador do HIV de "Filadélfia" por um polêmico simpatizante do terrorismo irlandês.
Não dava para esperar outra coisa do Hamlet que é talvez o mais polêmico da atual geração britânica. Do Hamlet que participou da montagem de Richard Eyre, herdeiro de Laurence Olivier na direção do National Theatre. Um Hamlet com tamanho empenho físico e emocional que o próprio Day-Lewis terminou não aguentando. No meio da temporada, saiu de uma apresentação de "Hamlet" para não retornar mais. Richard Eyre até hoje evita o assunto. O ator voltou-se para o cinema, onde está exilado desde então.
Daniel Day-Lewis é um irlandês raivoso, Anthony Hopkins é um galês errático. Descoberto pelo cinema depois dos 50 anos, tem uma carreira tão ou mais gloriosa no teatro britânico. Foi escolhido por Olivier nos anos 60 e por longo tempo apontado como o herdeiro. Mas brigou com o mestre e também exilou-se no cinema.
Aos 56, é o próprio ator clássico, de emoções milimétricas. Como ele, também Emma Thompson, que cresceu na tradição inglesa. No teatro, marcou com espírito e humor cortante o papel de Beatrice, a mesma personagem que ela repetiria no cinema, na comédia "Muito Barulho por Nada".

Texto Anterior: Spielberg vai à festa em clima " já-ganhou"
Próximo Texto: Noite vai ter Young e Springsteen ao vivo
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.