São Paulo, segunda-feira, 21 de março de 1994
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Spielberg vai à festa em clima " já-ganhou"

ANA MARIA BAHIANA
ESPECIAL PARA A FOLHA, DE LOS ANGELES

Spielberg vai à festa em clima 'já-ganhou'
Em LA, outdoors assumem a vitória do diretor; a apresentadoraWhoopi Goldberg diz não estar preocupada com o que vai vestir
Às vésperas do Oscar, Los Angeles amanheceu salpicada de estranhos cartazes: "Parabéns, Mr. Spielberg", "Obrigado por 'A Lista de Schindler', Mr. Spielberg. Nos vemos no Oscar", dizem os outdoors, assinados por empresas tão diversas quanto confecções e fabricantes de xampu. A lógica atrás dos cartazes é simples: Spielberg vai ganhar, e ganhar muito. E é de bom alvitre salpicar um pouco desse pó de pirlimpimpim em nossos próprios ombros, através de homenagens e agradecimentos.
O mesmo raciocínio –um tanto colorido por conotações político-ufanistas– explica a festa oferecida na noite de anteontem por um casal de "socialites emigrés", à equipe polonesa de "A Lista de Schindler". Um evento deste tipo, em outras circunstâncias, atrairia o círculo mais íntimo da comunidade polonesa em Los Angeles. Mas porque o ano é 1994, e o filme é "A Lista de Schindler", a festa, com a presença do próprio Spielberg, tornou-se uma das mais badaladas da temporada pré-Oscar.
Este clima "já-ganhou" tem, como tudo na vida, dois lados. O lado positivo é o substancial empurrão promocional que "A Lista de Schindler"está recebendo, não apenas nos EUA, –onde já fez mais de US$ 54 milhões, e tem bilheteria total projetada em US$ 70 milhões–, mas principalmente no exterior, onde acaba de estrear ou está em vias de ser lançado. "Este é um filme difícil, que exige o maior cuidado possível", diz Nadia Bronson, vice-presidente de marketing da Universal. "As indicações e o clima positivo em torno dele nos ajudam imensamente."
O lado negativo, ironicamente, afeta o próprio Oscar. Uma cerimônia com pouco suspense, na qual o público acredita que sabe de antemão quem vai ganhar resulta, em geral, em índices mais baixos de audiência –e o Oscar é, em essência, um espetáculo de TV.
A falta de um elemento dramático ou de suspense é apenas mais um abacaxi que a produção do Oscar tem que descascar este ano. O produtor Gilbert Cates e sua equipe já tiveram que enfrentar um terremoto (que inutilizou um andar inteiro da Academia e atrasou a preparação da festa), a ausência de Billy Crystal como apresentador (ocupado com seus projetos como ator e produtor, Crystal provavelmente não estará nem na platéia do Dorothy Chandler) e o obscurantismo do Departamento de Estado, que negou vistos de entrada a bailarinos cubanos que fariam parte do número musical de apresentação das trilhas indicadas.
Fator Whoopi
Finalmente, existe o fator Whooopi Goldberg, uma personalidade forte, desinibida e divertida –talvez um pouco forte, desinibida e divertida demais para a Academia. Goldberg já disse publicamente que não está "nem preocupada" com o que vai vestir. A produção teme uma catástrofe multicolorida como a que a atriz usou no ano passado. Declarou também que se a Academia não gosta de pronunciamentos políticos, tanto pior. "Todo mundo sabe minhas posições políticas e sabe que falo abertamente sobre elas", disse.
Ano passado, a Academia foi inundada por cartas, faxes e telefonemas reclamando dos discuros políticos de Richard Gere, Susan Sarandon e Tim Robbins. Cates foi obrigado a se retratar com uma declaração pública de repúdio aos "usos espúrios" da festa. Este ano, o produtor já disse de antemão que "apóia tudo que Whoopi fizer" e que "opiniões políticas dão mais colorido à noite". Tudo por alguns pontos de audiência.

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